sábado, 15 de março de 2008

Diz-me o que comes... (II)

Informação e notas soltas que foram utilizados na investigação e preparação do texto que sai hoje no Expresso.

Aumento médio de preços de 2005 para 2008, em Nova Deli, Índia
1 Euro equivale a 50 Rupias indianas



1 kg de farinha (para as apas, essencial à dieta indiana)
De 0,18 a 0,30 Euros



1 kg de batatas (tal como vegetais, preço flutua muito com as estações do ano)
De 0,10 a 0,16 Euros



1 kg de arroz
Grande variedade de qualidades, entre 0,30 e 1,00 Euros
Em média, inflação de 0,15 Euros/kg/ano



1 litro de óleo vegetal
De 0,80 a 1,05 Euros
Classe média/alta escolhe, por vezes, azeite de oliveira importado, a mais de 2,00 Euros/litro



1 bilha de gás
Preço oficial: 6,00 Euros
Mercado negro: 11,00 Euros



1 litro de querosene (utilizado em substituição de gás pelas classes desfavorecidas)
Preço oficial: 0,16 Euros
Preço privado: 0,70 Euros



5 litros de água engarrafada (garrafão)
De 0,80 Euros a 1,30 Euros



1 kg de frango, em talhos comerciais
De 1,20 Euros a 1,80 Euros



1 kg de Paneer - requeijão (muito comum na gastronomia indiana)
De 1,40 a 2,40 Euros



1 litro de leite do dia
De 0,31 a 0,42 Euros


A Índia vive um fulgurante boom económico: no sector privado, os salários chegam a aumentar entre 30 e 50% por ano, a economia cresce entre 8 e 9% por ano, o governo procura desesperadamente conter a inflação que chega aos 5%.

Prosperidade inédita: estudos apontam para que os índices de pobreza tenham recuado em 10% desde 1997, mas o índice internacional Gini, um coeficiente que calcula a distribuição igualitária da riqueza, reflecte uma subida na Índia (crescimento desigual), desde que o país abraçou as reformas económicas, em 1991: a diferença de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres tem, desde então, crescido a passos largos. Todos enriquecem a passos largos, mas uns (classe alta e média-alta, essencialmente urbana) mais rapidamente do que os outros (classes baixas, rurais e urbanas).

Assim, é natural que a subida dos preços alimentares tenha afectado, especialmente:

- os mais pobres, que vivem de rendimentos ocasionais (economia informal, que chega a pesar 80% em algumas regiões)

- as zonas rurais, com menor oferta e em que há menos concorrência

A classe média urbana é afectada, mas pouco: consegue cobrir a subida dos preços alimentares com a subida de salários e não tem, por isso, necessidade de alterar a sua dieta ou alterar o seu orçamento quotidiano.

Mas não deixa de ser uma questão explosiva, em termos políticos: a estabilidade do governo depende, entre vários factores (por exemplo, fornecimento de água e energia) directamente da inflação e, em especial, dos preços alimentares, que assim servem de índice de estabilidade política. Há falta de cebolas no mercado, ou o preço do querosene é aumentado, logo há crise política. Embora o mercado alimentar esteja privatizado, este tende a seguir os preços-índice fixados pelo Governo, que mantém uma extensa rede de estabelecimentos públicos (respectivamente para lacticínios, frutas e vegetais ou cereais e grãos).

E há a privatização do mercado do retalho... com as multinacionais à espreita. Necessária num país que perde um terço da sua produção de cereais e vegetais no seu transporte e armazenamento deficiente, ou suicídio para os pequenos e médios empreendedores agrícolas indianos? O debate continua.

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