E aqui estou eu de partida. Sentado ao computador numa aldeia nas vizinhanças de uma capital europeia, com a brisa fresca do Monte Manique a entrar pela porta do terraço. Já houve o tradicional jantar de despedida, com a família e um amigo. Pouco desfrutado, porque a mala ainda estava por fechar (e ainda o está). São uma da manhã. A partida do vôo KLM para Amesterdão estã prevista para as 6 da manhã. Tenho ainda uma hora para rever se me esqueci de algo.
Como é que se faz uma mala para uma estadia de dois anos na Índia? Especialmente para uma cidade onde as temperaturas mínimas são de 3 graus negativos e as máximas atingem os 46? Sinceramente, não sei. Levo alguma roupa, o mínimo. De resto, papelada, utensílios electrícos ou electrónicos de estimação, um guia Rough Guides India, manual de Relações Internacionais (Dougherty&Pfaltzgraff, dá sempre uma segurança), poucos cd's... e muito boa disposição, porque me aguarda uma civilização diferente que só com muita paciência e abertura de espírito irei ultrapassar sem mazelas.
Devem estar a pensar porque não falo das despedidas. 1º porque não tenho namorada, e isso jã facilita tudo à partida. 2º porque simplesmente nunca liguei, nem a minha família o faz, às despedidas emocionais e titânicas. É tudo relativizado a uma pequena saída. Acho que já estamos todos habituados a viajar. O meu pai saiu em 1961 com 18 anos pela primeira vez de Goa para estudar em Coimbra, e depois em Colónia e Munique. A minha mãe, católica da Renânia, casou um goês e foi viver para o Brasil e depois 25 anos (e para sempre, provavelmente) para Portugal, onde já fala um português gramaticalmente mais correcto que muitos apresentadores de televisão. Portanto, porque não hei-de eu ser capaz, neste mundo que encolheu tanto desde 1962, de atravessar o mundo para perseguir o meu sonho de redescobrir as minhas raízes?
Tudo encaixa perfeitamente no meu plano de vida que já há muito traçei. Admito que muito possa mudar ainda mas este é certamente o vôo no qual quero embarcar.
Amanhã por esta hora espero estar em Nova Deli. Até já.
É sempre bom ter saudades, mesmo com sangue alemão !
ResponderEliminar