sexta-feira, 4 de julho de 2008

Excuse me, Mr. Zimler? (Sidh Mendiratta)

O Sidh adiantou-se e, por isso, resta-me subscrever inteiramente este post e comentário dele:

WR: Richard, what amazes me about your book is that you have never visited Goa and yet one gets a distinct impression as if you spent a year here...

RZ: What a wonderful compliment! I wanted to go to Goa, but English and Portuguese friends kept telling me how much it has changed over the last forty or fifty years, and I was worried that some aspect of its present landscape and culture would "infiltrate" the picture I had already formed in my head of Goa at the end of the 16th century. I didn't want to risk any modern details in the book – anything that wouldn't be accurate for the 16th and 17th centuries – so I didn't go.

(from an interview to Richard Zimler, published in the Goan Daily "Herald")

Ok...I have to get this one straight...Zimler formed an image of Goa at the end of the 16th century by working in the libraries and archives of Portugal or Europe. Possibly by looking at images of landscapes, buildings, objects and people. And when he had to decide if he should visit Goa, he took the advice of some people who told him Goa had changed a lot since 1961 and thought it better to stay put.

This means he did not consider it important to see or hear what the Goans - or Indians - think of the Inquisition or what traces this phenomenon has left in Goan culture and landscape. Therefore, his books relapses into a classical form of Orientalism - Zimler detatches himself from his topic, avoiding the "breathing in" and the first hand observation of the present culture whose past and historical phenomena he describes.

And I just wonder if it was a Portuguese of Goan background who influenced his decision not to visit this place...this place that continues weaving and exporting black legends.

(daqui, onde recentemente se tem podido acompanhar um soberbo périplo indiano)

3 comentários:

  1. Este argumento do Orientalismo ja esta um pouco estafado. Como bem tem argumentado Dennis Porter, a perspectiva de Said, por mais interessante que seja, mostra-se incapaz de historicizar os textos que analisa e de destrincar entre diferentes generos - e diferentes generos tem diferentes efeitos a nivel da hegemonia cultural que Said tanto critica.

    Para alem disso, um dos pontos interessantes do Porter e que o orientalismo nem sempre se reduz a construcao do Outro oriental como alguem inferior, feminino, irracional, passivo, incapaz de se governar - veja-se, por exemplo, o orientalismo britanico face ao Japao no inicio do seculo XX...

    Neste caso, estamos perante um romance e nao um texto academico sobre Goa - portanto, convem nao exagerar neste tipo de analises politico-ideologicas que rapidamente se podem tornar um passatempo e uma forma de preguica mental. O problema do Orientalismo e que rapidamente se torna uma lente que explica tudo o que as pessoas quiserem que explique. Se me der para isso, posso ate encontrar dezenas de exemplos de "orientalismo classico" nos posts deste blogue.

    Abraco,
    j.

    ResponderEliminar
  2. Caro João,
    compreendo o teu ponto de vista, e concordo parcialmente. Mas atenção: não entres no frenesim popular que agora se juntou para atirar pedras a Said e, para tal, anda a glorificar o trabalho de Porter (sabes de quem falo). No entender de Said o Orientalismo, mais do que uma era ou uma forma de ver o mundo, representa provavelmente uma crítica à metodologia clássica com que a Europa estudou e abordou o resto do mundo. Uma metodologia que, em minha opinião, se encontra bem viva. Neste blogue também, embora eu preferisse que tu nele identificasses mais Ocidentalismo...

    ResponderEliminar
  3. Obrigado, João e Constantino, pelos vossos comentários...e sendo um debate tão irrestível, gostava apenas de acresentar alguns factos:

    - A obra de Zimler integra, mais precisamente, a área da história ficcionada. Tem diferenças, a nível de teoria da literatura, com o romance.

    - No comentário que fiz ao texto de Zimler, nunca sugeri que ele construísse uma imagem orientalista dos Goeses ou Indianos como "inferiores, femininos, irracionais, passivos, etc."

    - Qualquer análise de uma obra de literatura que se tenha lido é válida como opinião pessoal e acho que constitui um exercício de ginástica mental e não de perguiça mental.

    - Acho que ninguém neste planeta é completamente imune aos fumos do Orientalismo ou do Ocidentalismo...

    Saudações

    ResponderEliminar