segunda-feira, 16 de janeiro de 2006
Survival
In 1980 a Presidential Commission (known as the "Mandal Commission" after the name of its Chairperson) issued a comprehensive report and set of recommendations for national standards. Although the Mandal Report did not use the term "social capital," its central premise was that the mere prohibition of discrimination and a policy of "equal opportunity" were insufficient to remedy the profound social effects of the caste system. It stated: "People who start their lives at a disadvantage rarely benefit significantly from equality of opportunity ... Equality of opportunity is also an asocial principle, because it ignores the many invisible and cumulative hindrances in the way of the disadvantaged." The Mandal Report generated lively debate but it was not until 1990 that the national government actually proposed implementation of the Report. This announcement, by then-Prime Minister V.P. Singh, prompted widespread civil disturbance, instances of self-immolation by high-caste Hindus in protest, and litigation leading to an epic three months of oral argument before the Supreme Court. In 1992 the Supreme Court reached a 6-3 derision, largely approving the Report and its recommendations.
Numa avenida nua nos arredores de Deli a poeira começa a levanter-se cedo de manhã. Ao frio de quatro ou cinco graus, o sol ainda não despertou, centenas de homens magros e sujos aglomeram-se em grupos de dez ou vinte. Esperando, observo. Cada veículo de porte maior que passa em velocidade mais reduzida capta imediatamente a sua atenção. Quando se confirmam as expectativas, a carrinha de caixa aberta ou o camião pára e sai de frente do volante um senhor bem vestido, com um pau na mão. Imediatamente as massas se aproximam e antes mesmo de o condutor ter subido para o tejadilho e anunciado o número de mãos que precisa para dez ou quinze horas de trabalho na empreitada, já os frágeis cotovelos se enfiam pelas costelas vizinhas, as vozes desesperadas ganham volume e os primeiros sobem para o veículo. O empregador não fala, não anuncia, mas escolhe os que quer, imune aos olhares, aos pedidos, aos apelos, soberano, com a ajuda do seu duro ceptro. BUSINESS IS DARWINISM. ONLY THE FITTEST SURVIVE.
Jawaharlal Nehru Universty, Admissions, Reservations: For SC/ST Candidates: In accordance with the Resolution of the Parliament, up to 22.5% seats (15% for SC and 7.5% for ST candidates, interchangeable, if necessary) in each Programme of Study are reserved for Scheduled Caste/Scheduled Tribe candidates. Reservation of seats for physically handicapped candidates 3% of the seats are reserved for the Physically handicapped candidates in all the programmes of study. A candidate, in order to be eligible for any concession/benefits under the Physically Handicapped category, should have minimum degree of disability to the extent of forty percent. Deprivation points for other backward classes (OBC's) and other candidates. Deprivation points (upto a maximum of 10 points) will be given to the candidates of the following categories: OBC Candidates (…).
À entrada da mesquita, no centro apertado da cidade, as crianças acenam-me com pequenos blocos coloridos de senhas. À primeira vez, querendo-me imune a tantas trafulhices pedintes na Índia, ignoro-as. À segunda, sinto-me observado e alargo os meus horizontes. Por detrás das crianças, dos dois lados da ruela, há pequenas dabhas, onde se preparam umas apas, arroz, e talvez um ou outro vegetal cozido. Os cozinheiros olham-me com atenção, mas continuam a misturar. É outro olhar que me atrai. À entrada de cada dhaba há longas filas de uma ou duas dezenas de mendigos, vestidos com farrapos e alguns cobertos com bolhas pustulentas, muitos amputados, um mesmo sem pernas nem braços, para além de muitas crianças, menos flageladas fisicamente mas mais ainda miseravelmente expostas ao frio e à neblina que cobre a cidade. Faço a associação e compro dez senhas a dez cêntimos cada. Imediatamente, de todos os lados, as filas fundem-se numa só tremenda turba que tenta desesperadamente entrar para a dhaba da qual comprei as senhas. Sei que está no meu poder corresponder ou não aos olhares miseráveis que me lançam. Abstenho-me. O cozinheiro toma a iniciativa e escolhe dez, que devoram uma apa, uma malga de arroz e uma batata assada. BUSINESS IS DARWINISM. ONLY THE FITTEST SURVIVE.
Eight people have been arrested in the central Indian state of Madhya Pradesh over the gang-rape of three women from the Dalit lower-caste Hindu community. The attack is said to have been revenge for a Dalit boy's elopement with a girl from an upper-caste Yadav family. A police complaint alleges that a band of about 30 Yadav men raped the boy's mother and two aunts, having first paraded them through the village. Tensions boiled over in the Madhya Pradesh village of Bhamtola when a 14-year-old Yadav girl eloped with a 19-year-old Dalit boy. At a village council meeting, the Yadavs demanded their lower-caste neighbours hand the couple over, says the BBC's Mahesh Pandey from Bhopal. According to a police officer, the girl's brother filed a complaint and called for the marriage to be annulled. His community members then allegedly attacked the Dalit boy's house before gang-raping three of his female relatives on Thursday night. Security has been stepped up in the village and public gatherings banned amid fears that the incident could unleash a spiral of caste violence.
O gigante edifício pintado de verde claro suscita imediatamente a minha atenção. Talvez dos anos 70, tal como muitos outros dos edifícios governamentais em Nova Deli. À sua frente um painel automático digital passa rápidas letras, mensagens, em amarelo fluorescente, em caracteres romanos, como que para inglês ver. NATIONAL PRODUCTIVITY COUNCIL. BUSINESS IS DARWINISM. ONLY THE FITTEST SURVIVE.
Lembro-me de que estou na Índia
Lembro-me de que estou na Índia
sábado, 14 de janeiro de 2006
Imagens de Deli: Reconquistando a Índia
Talvez me engane. Talvez seja severo demais na apreciação das capacidades do novo Portugal de redescobrir o mundo. O que me fez repensar essa minha avaliação, entre outros, foi a visita à Índia dos meus dois amigos e ex-colegas na Nova, Henrique Antão e Henrique Mateus, em Setembro passado.
A minha perspectiva crítica acerca da imagem da Índia no Portugal contemporâneo e em geral da imagem do mundo extra-europeu prevalecente em Portugal merece pois uma adenda. Há sim, novas gerações lusas à redescoberta do mundo. São uma minoria, por enquanto, mas em rápido crescimento.
Há os estudantes portugueses que escolhem prosseguir os seus estudos por um ano no estrangeiro, no âmbito do programa Erasmus. E há o crescente número de mochileiros portugueses que abandonam tudo para viajar pelo mundo fora durante vários meses. Encontrei uma vez um casal desses em frente à Embaixada portuguesa aqui em Deli, os dois a roçar os trinta, casados. O circuito, quase sempre por terra, tinha-os levado de Lisboa a Moscovo, depois pela Ásia Central, China, Vietname, Tailândia, Myanmar até à Índia. Preparavam-se para seguir para o Paquistão, Irão, depois cruzarem o Médio Oriente pela Síria, Israel e Egipto, para finalizarem a viagem pelo Norte de África, via Marrocos. Ah e tal, excepção à regra, dirão. Certamente. Mas pelo menos já há excepções.
Quanto à Índia em específico, tenho observado o mesmo fenómeno. Contra as enfermeiras dos Centros de Sáude que exclamam "Ai minha Nossa Senhora, para a Índia é que não vá, menino, fique mas é em casa" quando os meus amigos pedem as vacinas e recomendações médicas necessárias, e contra demais Velhos do Restelo que pontuam a paisagem intelectual portuguesa, há um crescente número de jovens que têm vindo à Índia. Quase que não há semana em que não receba um pedido de informação ou pedido de acompanhamento da parte de amigos ou conhecidos que pretendem visitar a Índia. O mais interessante é que antes de partir me cobrem com avalanches de dúvidas e receios, mas uma vez aqui, perco-lhes rapidamente o rasto, diluindo-se rapidamente na lógica indiana, para reemergirem já em Lisboa com um "Obrigado, foi fantástico e quero voltar".
Goa joga obviamente um papel importante, porque é sem dúvida uma das pontas do cordão umbilical lusófono multilateral que liga Lisboa a tantos povos e culturas pelo mundo inteiro. Gosto de passear por lá na companhia de quem a visita pela primeira vez, porque dá-me a mim mesmo a oportunidade de redescobrir o que pensava já ter descoberto há muito.
Essa oportunidade foi-me novamente dada, em Setembro último, pelos meus dois amigos Henriques. Um de Loures, o outro do Barreiro, licenciados e formados, em vias de integrar a função pública portuguesa em nobres postos e prometedoras carreiras, são para mim um dos avatars mais típicos da nova geração portuguesa, ávida em alargar horizontes e renegociar relações de amizade com aqueles e aquilo que nos acompanhou, para bem e para mal, durante cinco séculos.
Em menos de duas semanas os Henriques galgaram quase 8000 quilómetros indianos, de avião, comboio, autocarro, carro, riquexó, elefante e mesmo a pé. De Goa a Srinagar cobriram o que havia a cobrir e redescobriram aquilo o que as veias lhes mandavam redescobrir. Quase sem dormirem, contra as intempéries e climas adversos que assolam o subcontinente indiano em Setembro, com humor e interesse, mas acima de tudo com frontalidade e sinceridade, olhando o estranho afinal tão familiar directamente nos olhos, reconquistaram a Índia.
Foto: Forte de Corjuém, séc. XVIII, Goa, Setembro 2005
ICEP, Portugal e Índia
Não há passagem para a Índia
500 anos depois de Vasco da Gama ter descoberto o caminho marítimo, ICEP ignora mercado indiano
SE HÁ cinco séculos Portugal ainda dominava o comércio europeu com o subcontinente indiano, hoje prima pela ausência. Enquanto que a maioria das embaixadas europeias em Nova Deli contam com vastas delegações comerciais, o ICEP está a ainda a «equacionar» a abertura de uma representação na Índia.
«A Índia tem um grande potencial, mas não constitui ainda um mercado estratégico», confessou ao EXPRESSO uma fonte do ICEP. A representação dos interesses económicos portugueses no segundo maior país do mundo está entregue a três diplomatas. Não é por isso surpreendente que em 2004, entre os 25 países da UE, Portugal tenha ocupado o 18º lugar no «ranking» de volume de exportações para a Índia.
O mapa de delegações do ICEP parece querer contrariar as estimativas de que em menos de 30 anos a Índia será a terceira maior economia global e que em menos de 20 anos quadruplicará o seu PIB «per capita».
Entre os 42 países do mundo que acolhem representações do ICEP, Nova Deli é a grande ausente. «Se a China está na moda, o mesmo não se poderá dizer da Índia», explica a nossa fonte.
De facto, ao contrário do caso chinês, o comércio bilateral luso-indiano tem estado estagnado. A balança comercial é tradicionalmente deficitária para Portugal.
É por isso mesmo que Eugénio Viassa Monteiro, presidente da Associação de Amizade Portugal-Índia, defende a importância de uma delegação do ICEP. «É preciso acabar com o grande distanciamento psicológico, desfazer clichés e descobrir nichos de mercado, sobretudo nas grandes cidades, como Bombaim, Chenai e Nova Deli», diz.
«Num imenso mercado de 1100 milhões, em grande crescimento, Portugal pode vender muito», refere, criticando a percepção de que a orientação económica portuguesa na Ásia deve ser exclusivamente chinesa. O governo indiano anunciou este mês que a sua economia voltará a crescer cerca de 7% este ano.
Viassa Monteiro sublinha que uma delegação do ICEP «poderia facilitar informação, organizar contactos e dar o apoio credível que um desconhecedor precisa».
A burocracia é apontada como um dos pontos negativos na imagem externa da Índia, sendo precisas dezenas de autorizações e cerca de três meses para fundar uma empresa com capital estrangeiro.
Viassa Monteiro lembra a vantagem comparativa não-explorada do «capital de simpatia e admiração em relação a Portugal», especialmente em Goa, onde o vinho, o azeite ou o artesanato português têm enorme procura, mas são vendidos a preços proibitivos para o poder de compra da classe média indiana estimada em 300 milhões de pessoas.
Já a embaixadora indiana em Lisboa, Latha Reddy, sublinha as crescentes oportunidades que o seu país oferece a capitais portugueses. «O sector energético, a expansão da rede ferroviária e rodoviária e os sectores aeroportuário e portuário irão atrair cerca de 10 a 15 mil milhões de euros/ano em investimentos externos», refere a embaixadora, destacando também a indústria de processamento alimentar e os sectores da tecnologia de informação, joalharia e farmacêutica. «Queremos que as empresas portuguesas façam parte do nosso milagre económico», refere Latha Reddy.
Constantino Xavier, correspondente em Nova Deli
terça-feira, 10 de janeiro de 2006
Imagens de Deli: Goa
Mercado semanal de Anjuna, em Goa. Começou nos anos 70, quando os hippies que aqui encontravam refúgio do Ocidente se encontravam semanalmente para venderem e trocarem as suas posses, especialmente os que se preparavam para voltar. Cresceu e é hoje uma das feiras mais frenéticas na Índia, atraindo, por um lado, comerciantes, limpadores de ouvidos e malabaristas de todo o país e, por outro lado, turistas de diversas nacionalidades. Destacam-se os britânicos com a pele coberta por tatuagens e por crostas provocadas por insolação excessiva, sempre de caneca de cerveja na mão. Na praia, de costas para a feira e que se não fossem os turistas já teria sido convertida em retrete geral pelos migrantes domésticos, os mais corajosos lançam-se ao mar e os russos gerem as esplanadas, enquanto que um nigeriano, talvez ex-futebolista, tenta entreter os turistas esquálidos com umas linhas pouco improvisadas e uma batida negra.