sábado, 14 de janeiro de 2006

ICEP, Portugal e Índia

Expresso, Edição 1730, 23.12.2005, Economia & Internacional

Não há passagem para a Índia

500 anos depois de Vasco da Gama ter descoberto o caminho marítimo, ICEP ignora mercado indiano

SE HÁ cinco séculos Portugal ainda dominava o comércio europeu com o subcontinente indiano, hoje prima pela ausência. Enquanto que a maioria das embaixadas europeias em Nova Deli contam com vastas delegações comerciais, o ICEP está a ainda a «equacionar» a abertura de uma representação na Índia.

«A Índia tem um grande potencial, mas não constitui ainda um mercado estratégico», confessou ao EXPRESSO uma fonte do ICEP. A representação dos interesses económicos portugueses no segundo maior país do mundo está entregue a três diplomatas. Não é por isso surpreendente que em 2004, entre os 25 países da UE, Portugal tenha ocupado o 18º lugar no «ranking» de volume de exportações para a Índia.

O mapa de delegações do ICEP parece querer contrariar as estimativas de que em menos de 30 anos a Índia será a terceira maior economia global e que em menos de 20 anos quadruplicará o seu PIB «per capita».

Entre os 42 países do mundo que acolhem representações do ICEP, Nova Deli é a grande ausente. «Se a China está na moda, o mesmo não se poderá dizer da Índia», explica a nossa fonte.

De facto, ao contrário do caso chinês, o comércio bilateral luso-indiano tem estado estagnado. A balança comercial é tradicionalmente deficitária para Portugal.

É por isso mesmo que Eugénio Viassa Monteiro, presidente da Associação de Amizade Portugal-Índia, defende a importância de uma delegação do ICEP. «É preciso acabar com o grande distanciamento psicológico, desfazer clichés e descobrir nichos de mercado, sobretudo nas grandes cidades, como Bombaim, Chenai e Nova Deli», diz.

«Num imenso mercado de 1100 milhões, em grande crescimento, Portugal pode vender muito», refere, criticando a percepção de que a orientação económica portuguesa na Ásia deve ser exclusivamente chinesa. O governo indiano anunciou este mês que a sua economia voltará a crescer cerca de 7% este ano.

Viassa Monteiro sublinha que uma delegação do ICEP «poderia facilitar informação, organizar contactos e dar o apoio credível que um desconhecedor precisa».

A burocracia é apontada como um dos pontos negativos na imagem externa da Índia, sendo precisas dezenas de autorizações e cerca de três meses para fundar uma empresa com capital estrangeiro.

Viassa Monteiro lembra a vantagem comparativa não-explorada do «capital de simpatia e admiração em relação a Portugal», especialmente em Goa, onde o vinho, o azeite ou o artesanato português têm enorme procura, mas são vendidos a preços proibitivos para o poder de compra da classe média indiana estimada em 300 milhões de pessoas.

Já a embaixadora indiana em Lisboa, Latha Reddy, sublinha as crescentes oportunidades que o seu país oferece a capitais portugueses. «O sector energético, a expansão da rede ferroviária e rodoviária e os sectores aeroportuário e portuário irão atrair cerca de 10 a 15 mil milhões de euros/ano em investimentos externos», refere a embaixadora, destacando também a indústria de processamento alimentar e os sectores da tecnologia de informação, joalharia e farmacêutica. «Queremos que as empresas portuguesas façam parte do nosso milagre económico», refere Latha Reddy.

Constantino Xavier, correspondente em Nova Deli

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