A desconstrução do tradicional sistema social indiano e o caos solto naquela que era uma das mais ordenadas e disciplinadas arenas socias são um dos temas que mais me fascinam na Índia.
Linhas de divisão, elementos de referência, sítios, lugares e hierarquias – tudo posto em causa pelo que chamam de modernização. O problema é que a modernidade, se é que jamais existiu, já faz parte do passado. E que aqui a tradição resiste ofensivamente – agarrando e assimilando a modernidade de cariz ocidental. Complica-se tudo com a entrada em cena da pós-modernidade.
O que faz com que a Índia seja vista como um espaço excelente para estudar os efeitos da globalização (ver, por exemplo, Arjun Appadurai: "Apres l'Empire, Les consequences culturelles de la mondialisation"). Em que se estabelece o que muitos chamam de "Mixed Times", em que a tradição, a modernidade e a pós-modernidade coexistem num mesmo espaço, ele mesmo cerescentemente desterritorializado.
Claro que tudo pode ser visto de uma perspectiva de decadência, em que nasce a nostalgia pelo passado em que as forma eram claras e as linhas sóbrias. Em que havia sítio e lugar de pertença. Em que se podia classificar facilmente e ordenar – afinal foi assim que os britânicos criaram a Índia e todos os outros colonizadores as suas colónicas (ver Benedict Anderson: "Imagined Communities" e a criação da nação pós-colonial com a ajuda da trilogia instrumental "Maps, Census and Museums").
Mas, de outra perspectiva a Índia oferece-nos também a possibilidade de questionar o que tão inquestionável nos parece no Ocidente ou o que tentamos mas não conseguimos questionar. De observar uma fluidez no desenvolvimento das relações sociais, com o seu grau de conflitualidade, é verdade, mas com uma naturalidade e à-vontade assustadores para os ocidentais.
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