quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Índia em Frankfurt

Como que por arrasto, depois da dimensão económica e política, é agora a Índia literária que emerge no panorama mundial. Não é novidade per se. Há muito que o subcontinente encarna o fascíneo orientalista dos ocidentais. Mas a descoberta é agora massificada. O lugar de honra no palco dos palcos, a Feira do Livro de Frankfurt, confirma-o.

Depois dos Estados Unidos e da Grã -Bretanha, a Índia, com 80 mil livros publicados anualmente, ocupa o terceiro lugar a nível mundial na edição de livros em inglês. "A literatura indiana já não é considerada como qualquer coisa de exótico. Ela tornou-se banal nos EUA e na Grã-Bretanha", diz Thomas Abraham presidente da Penguin India, um dos maiores editores do país. Diz bem. A questão é quando é que passará a ser "banal" em Portugal também. E quando é que algum olheiro literário/editorial se lembrará de vir explorar o mercado aqui.


"Pensamos que há toda uma Índia por descobrir: não é apenas o Taj Mahal, o arroz, Goa ou a cultura hippie. É o país dos media electrónicos, da ciência e da economia. Nós já não reconhecemos aquilo que Herman Hesse (autor de Siddartha em 1922) escreveu. É a maior democracia do mundo que funciona apesar das suas 24 línguas e com pessoas que não se entendem", diz o director da feira, Jürgen Boss, ao Público de hoje.

Uma afirmação que, certamente, está polvilhada de clichés. Mas, afinal, é isso que interessa. Já não são só uma dezena de gatos pingados hippies a repetirem um ou dois clichés sobre a Índia. Agora temos um imenso e plural conjunto de clichés sobre a Índia, constantemente debatidos e postos em causa. Há muito mais no horizonte indiano, para além das pequenas coisas.

2 comentários:

  1. Mais uma vez, há que ter o sentido das proporções. Por exemplo, nestes tempos em que se quer introduzir à viva força novos blocos, aparece por aí muita gente a falar dos BRIC (resta ver por quanto tempo mas isso é outra questão). Ora tal pode servir de ponto de partida. Vamos ao exercício:

    Em que anos é que a Rússia, o Brasil e a China tiveram o lugar de honra na feira de Frankfurt? E por quantas vezes? E com que escritores, aqueles que se exprimem em inglês ou aqueles que se exprimem nas línguas locais? (Esta última questão é demasiado obviamente retórica.)

    Acho que a mensagem passou, toda esta euforia com a Índia é um pouco extemporânea e resta saber quanto tempo vai durar.

    Um dado verdadeiramente importante para pôr as coisas em perspectiva? Aqui vai: A China criou um Instituto Confúcio. Isso mesmo, um equivalente chinês ao British Council, Alliance Française ou Goethe Institute (já para não falar no Instituto Cervantes ou mesmo no Instituto Camões). Saltar do terceiro para o primeiro mundo dá muito trabalho, de facto. E exige uma compreensão correcta daquilo que somos. Alguns sabem-no, outros pensam que sabem.

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  2. Questão chave, então:
    Os indianos sabem quem são? Ou pensam saber e estão errados?

    PS: Interessante, o comentário relativo ao Instituto Confúcio. Embora menos avançado, é de referir que o Indian Council for Cultural Relations, congénere indiano, tem procurado fazer o mesmo, mas de forma muito diversificada e ad hoc, dependendo da altura e do país alvo (variando entre cadeiras de estudos indianos nas universidades, bolsas de estudo, eventos culturais etc, tudo um pouco ao "calhas"): www.iccrindia.org

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