domingo, 15 de junho de 2008

Spelling Bee

Eu já aqui tinha feito uma referência, mas não resisto voltar à cobertura noticiosa que mais me impressionou nos meses recentes.

O Scripps National Spelling Bee Contest é um concurso norte-americano em que miúdos (acho que com menos de 12 anos de idade) competem a soletrar palavras inglesas muito difíceis. O interessante é que, quase todos os anos, se contam vários meninos e meninas de origem indiana entre os finalistas. E todos os anos (pelo que percebi este ano) o seu desempenho é acompanhado com muita atenção pelos indianos na Índia.

Este ano ganhou o Sameer Mishra e, durante dois ou três dias, não se falou de outra coisa na comunicação social indiana, secção International ou Entertainment News, e eu cheguei a ver a final inteira a ser transmitida, em diferido, em horário nobre:



A celebração de que a vitória de Mishra foi alvo reflecte uma profunda ansiedade e toda uma Weltanschauung indiana muito peculiar. Mishra não ganhou por ter pintado, nadado ou escrito melhor que os outros - não, isso são áreas demasiado artísticas, subjectivas. Ganhou, aos brancos e aos outros, numa competição muito científica, muito correcta e objectiva, muito clara e racional, em que não há margens para dúvidas (é por isso que o júri está sempre a repetir a palavra e pede que o miúdo faça o mesmo).

Ora, ganhar neste jogo (tal como em competições científicas, tecnológicas e matemáticas internacionais) é, para os indianos, símbolo de poder, de agência, de igualdade (se não superioridade) para com o Ocidente (e o resto). E cá está a importância desta minúscula diáspora indiana na América do Norte, como modo de subjectividade, como representação desterritorializada do potencial de excelência de toda uma nação, de mil e tal milhões de pessoas.

Estes putos sabem soletrar guerdon e coisas assim e assim carregam nos ombros muito mais do que simples interesse por línguas estrangeiras e linguística.

O único problema é que depois, com a pressão toda de uma nação, ficam assim:



Ou, neste caso já norte-americano deveras patológico e desconcertante, assim:



Boa noite.

1 comentário:

  1. Sempre os velhos complexos de inferioridade. Externa, perante o colonizadores antigos (Ingleses) e novos (americanos); e interna, perante quem ainda verdadeiramente fala línguas indianas.

    E é sempre mais fácil usar crianças para os bater no seu terreno. E só com palavras.

    O problema, neste concurso como em todos os campeonatos, é que há sempre mais um.

    Nós, no nosso canto, entretemo-nos a tentar ser os melhores no pontaté na bola.

    Sérgio

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