Um excelente artigo de opinião sobre a autora de O Deus das Pequenas Coisas, agora uma das mais corajosas activistas pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão na Índia. Se a Índia fosse mesmo democrática, como alguns ingénuos gostam de sublinhar, pessoas como Roy não teriam a quem vender o seu peixe.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
A deusa das pequenas coisas
Um excelente artigo de opinião sobre a autora de O Deus das Pequenas Coisas, agora uma das mais corajosas activistas pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão na Índia. Se a Índia fosse mesmo democrática, como alguns ingénuos gostam de sublinhar, pessoas como Roy não teriam a quem vender o seu peixe.
Aldrabando: Fruta e legumes podres
É sempre a mesma coisa, quando vou ao mercado. Não tenho tempo, nem paciência, para escolher e inspeccionar cuidadosamente cada peça de fruta ou cada legume. O preço a pagar é alto: chega-se a casa e está tudo podre. Mesmo redobrando a atenção, aquelas mãos de vendedor são mágicas e um obstáculo quase intransponível no acto de compra. Conseguem sempre convencer-nos de que nos dão do melhor quando, na realidade, estamos a comprar do pior.
Paquistanês ou indiano?
Natal em Deli (reportagem)
Já vos aqui tinha dado a conhecer o plano natalício de um solitário português em Nova Deli. Ficam agora com uma reportagem mais alargada, extracto de um dos e-mails que enviei aos meus amigos em Portugal.
No dia 24 fomos à Missa do Galo. Não foi igual, não houve Mafra, nem família. Mas, simplesmente o frio, o processo de me vestir formalmente e sair para o frio nocturno, e encontrar-me com vários amigos (no fim, éramos 15!) e embarcar num táxi em direcção à Sacred Hearth Catedral, foi excelente. A missa, claro, foi sui generis, com sinthesizer e outras singularidades indianas, aquilo, com mais de mil pessoas e muitos mirones, mais parecendo uma Feira Popular.
Voltámos eram já perto das três da manhã, depois de tirarmos umas belas fotos em frente da catedral iluminada e de comermos umas castanhas bem quentinhas. No dia seguinte, depois de umas compras apressadas, passámos, a Dao, o Anirudh, a Arunita e eu, a manhã inteira a cozinhar. Quase dez pratos (incluindo o meu bacalhau que ficou soberbo), de todas os gostos gastronómicos e tradições internacionais. Antes, tínhamos comprado uma pequena árvore de natal e decorado a casa de forma natalícia. Adaptando uma tradição da minha mãe, preparámos um pequeno pratinho para cada pessoa cheio de doces e frutos e nozes etc., incluindo uma fatia de Bolo Rei (indiano).
Depois foram chegando os amigos, no total éramos cerca de 16, de várias religiões, regiões e círculos de amigos, incluindo o Pauly da Nigéria, a Fon da Tailândia, o Junaid de Caxemira etc., embora a maioria fosse hindu, de diferentes castas. Alguns poucos eram cristãos, católicos do Northeast incluídos, para além de uma budista e um muçulmano. O dia estava muito solarengo e as pessoas, ao som natalício da Rádio Renascença (obrigação de correspondente), foram passeando e conversando pela casa. Depois deliciaram-se com a comida.
No fim, depois de distribuir os pratinhos de doces, fizemos a troca de presentes. Cada um tinha trazido um presente no valor máximo de um Euro. Fizemos umas charades e cada pessoa tinha que tirar um papel e adivinhar de quem se tratava. Fiz isto porque há pessoas que não se conhecem bem e isso obrigou todos a conhecerem-se melhor e a trocarem presentes, criando novos laços de amizade.
A melhor parte é que, tal como no Natal e nas festas de família lá em casa, aqui também o convívio se foi estendendo até ao início da noite. No fim, talvez não tenha convertido pagãos, mas certamente que ajudei a dar a conhecer o espírito natalício e um pouco de mim e da minha (híbrida) tradição cultural.
No dia 24 fomos à Missa do Galo. Não foi igual, não houve Mafra, nem família. Mas, simplesmente o frio, o processo de me vestir formalmente e sair para o frio nocturno, e encontrar-me com vários amigos (no fim, éramos 15!) e embarcar num táxi em direcção à Sacred Hearth Catedral, foi excelente. A missa, claro, foi sui generis, com sinthesizer e outras singularidades indianas, aquilo, com mais de mil pessoas e muitos mirones, mais parecendo uma Feira Popular.
Voltámos eram já perto das três da manhã, depois de tirarmos umas belas fotos em frente da catedral iluminada e de comermos umas castanhas bem quentinhas. No dia seguinte, depois de umas compras apressadas, passámos, a Dao, o Anirudh, a Arunita e eu, a manhã inteira a cozinhar. Quase dez pratos (incluindo o meu bacalhau que ficou soberbo), de todas os gostos gastronómicos e tradições internacionais. Antes, tínhamos comprado uma pequena árvore de natal e decorado a casa de forma natalícia. Adaptando uma tradição da minha mãe, preparámos um pequeno pratinho para cada pessoa cheio de doces e frutos e nozes etc., incluindo uma fatia de Bolo Rei (indiano).
Depois foram chegando os amigos, no total éramos cerca de 16, de várias religiões, regiões e círculos de amigos, incluindo o Pauly da Nigéria, a Fon da Tailândia, o Junaid de Caxemira etc., embora a maioria fosse hindu, de diferentes castas. Alguns poucos eram cristãos, católicos do Northeast incluídos, para além de uma budista e um muçulmano. O dia estava muito solarengo e as pessoas, ao som natalício da Rádio Renascença (obrigação de correspondente), foram passeando e conversando pela casa. Depois deliciaram-se com a comida.
No fim, depois de distribuir os pratinhos de doces, fizemos a troca de presentes. Cada um tinha trazido um presente no valor máximo de um Euro. Fizemos umas charades e cada pessoa tinha que tirar um papel e adivinhar de quem se tratava. Fiz isto porque há pessoas que não se conhecem bem e isso obrigou todos a conhecerem-se melhor e a trocarem presentes, criando novos laços de amizade.
A melhor parte é que, tal como no Natal e nas festas de família lá em casa, aqui também o convívio se foi estendendo até ao início da noite. No fim, talvez não tenha convertido pagãos, mas certamente que ajudei a dar a conhecer o espírito natalício e um pouco de mim e da minha (híbrida) tradição cultural.
Imagens de Deli: Praveen e Djamia

sábado, 23 de dezembro de 2006
Natal na periferia que se quer centro
Aqui está-se tudo nas tintas. O pessoal não faz a mínima ideia de quem seja Jesus e perguntam-me se os cristãos também comem vaca ao Natal, mas andam todos a comprar barretes e a glorificar o Pai Natal como o novo messias, o capitalista.
Natal em Nova Deli? É só mais uma razão para acelerar a combustão consumista que fervilha na Índia. Televisores, ceias em hotéis de cinco estrelas ao preço de três ou quatro salários mínimos, árvores de natal em plástico e os ditos barretes vendidos nos cruzamentos por crianças descalças de mãos gélidas. Serve tudo para acelerar a economia. E mimetizar o Ocidente, procurando expurgar complexos de inferioridade colonial e periférica.
Natal em Nova Deli
É sui generis, mas também não é o fim do mundo. Natal em Deli, sem família, sem espírito natalício qualquer, sem chuva (mas pelo menos está frio). Opção A. Ignorar completamente a festividade que sempe me fez companhia a 24 e 25 de Dezembro. Opção B. Inovar e inventar alguma coisa... sui generis. A escolha, tradition compelling, foi a B.
Sexta-feira, na companhia de amigos (nenhum cristão) programa "Musical Journey through Christmas", num centro cultural alternativo chamado The Attic, no centro da cidade. Um professor indiano de língua alemã, aposentado, que viveu por muitos anos na Europa e se apaixonou pela música clássica, guia-nos de forma soberba pela história musical do Natal, incluindo os carols mais modernos e as sátiras musicais norte-americanos à explosiva comercialização do (agora pouco) santo dia. No fim, um punch quente caseiro com rum e uns belos bolos ingleses. Embora a companhia na sala me fosse pouco familiar, e mesmo um tanto desagradável (a pequena burguesia intelectual urbana e uns diplomatas com crianças berrantes à mistura), foi uma boa abertura das hostilidades... natalícias.
Tudo seguido de um jantar no pouco cristão Andhra Pradesh Bhawan, com um thali picantérrimo de gastronomia típica do estado de Andra Predexo, no Sul da Índia. Passeio pelo India Gate e regresso - muito negociado - de riquexó.
Esta manhã: início das decorações exteriores = abertura das hostilidades na vizinhança. Estou-me nas tintas. Ando eu sem dormir várias noites só porque hoje casa a filha, e a prima e o filho e tal, porque o calendário hindu está polvilhado de feriados religiosos que são autênticas orgias sonoras até de madrugada, para o quê? Deixem-me pendurar, pelo menos, uma estrela de papel iluminada em frente à minha porta. Agora sorriem, mas assim meio incomodados. Especialmente porque os filhos acham um espectáculo e se juntam na entrada do prédio ao fim do dia para verem a estrela do cristão.
Hoje, durante o dia: compras. Se aí a dificuldade é escapar ao consumismo e não faltam opções, aqui o panorama é de um deserto de opções. Há já uns mercados que vendem algumas peças de decoração, a maioria das quais de má qualidade e de mau gosto, mas, no cômputo geral, é preciso procurar. Comida, especialmente. Se o perú está excluído por questões financeiras, ainda cá tenho umas postas de bacalhau e compram-se no mercado uns camarões e uns bifes de frango e tal. E presentes, claro. Basicamente, para mim mesmo.
Amanhã à noite: para quem está habituado aos históricos sons e odores da Basília de Mafra, nem pensar meter os pés na missa de Natal da irlandesa e dominicana Igreja de St. Dominic's aqui das redondezas, um cru bloco de betão da década de setenta. O melhor que se arranja: Sacred Hearth Cathedral, a igreja que serve de epicentro da comunidade católica indiana, com a Conferência Episcopal logo ao lado. Mas, dizem-me ao telefone, a missa do Galo, à meia-noite, é "open-air". Estão dois graus e meio à noite. Mas pronto. Lá pelas dez e meia vou junto com vários amigos e colegas. Curiosamente, a maioria são hindus, muçulmanos e budistas: acompanham-me para observar. Observadores, portanto. Pelo menos não vou sozinho. Mas talvez seja acusado de andar a converter a nova geração. Mas eles já estão mais convertidos do que eu.
Segunda de manhã: pequeno-almoço no círculo privado aqui em casa (embora o Tyler se tenha escapado para a Califórnia natal) e depois o tal banquete natalício com os mesmos amigos da véspera. Vai ser difícil, mas o objectivo é empaturrá-los e, assim, dar-lhes a entender o fundamento essencial do Natal. E troca de presentes, é claro. Cada participante foi intimidado a trazer um presente no valor máximo de 50 Rupias, isto é, 95 cêntimos.
Pessoalmente eu testemunho, é certo, uma degeneração natalícia. Depois de ter passado todos os Natais da minha vida no seio da família, e quase sempre na mesma casa, no Rogel, passei os dois últimos Natais em Goa, mas, pelo menos, na companhia de parentes próximos e num ambiente natalício goês que tão convidativo é. Este ano não tem precedentes: Natal em Nova Deli, sozinho. Mas é também uma espécie de iniciação, criando experiência futura para inovar, adaptando a tradição às circunstâncias do presente.
Sexta-feira, na companhia de amigos (nenhum cristão) programa "Musical Journey through Christmas", num centro cultural alternativo chamado The Attic, no centro da cidade. Um professor indiano de língua alemã, aposentado, que viveu por muitos anos na Europa e se apaixonou pela música clássica, guia-nos de forma soberba pela história musical do Natal, incluindo os carols mais modernos e as sátiras musicais norte-americanos à explosiva comercialização do (agora pouco) santo dia. No fim, um punch quente caseiro com rum e uns belos bolos ingleses. Embora a companhia na sala me fosse pouco familiar, e mesmo um tanto desagradável (a pequena burguesia intelectual urbana e uns diplomatas com crianças berrantes à mistura), foi uma boa abertura das hostilidades... natalícias.
Tudo seguido de um jantar no pouco cristão Andhra Pradesh Bhawan, com um thali picantérrimo de gastronomia típica do estado de Andra Predexo, no Sul da Índia. Passeio pelo India Gate e regresso - muito negociado - de riquexó.
Esta manhã: início das decorações exteriores = abertura das hostilidades na vizinhança. Estou-me nas tintas. Ando eu sem dormir várias noites só porque hoje casa a filha, e a prima e o filho e tal, porque o calendário hindu está polvilhado de feriados religiosos que são autênticas orgias sonoras até de madrugada, para o quê? Deixem-me pendurar, pelo menos, uma estrela de papel iluminada em frente à minha porta. Agora sorriem, mas assim meio incomodados. Especialmente porque os filhos acham um espectáculo e se juntam na entrada do prédio ao fim do dia para verem a estrela do cristão.
Hoje, durante o dia: compras. Se aí a dificuldade é escapar ao consumismo e não faltam opções, aqui o panorama é de um deserto de opções. Há já uns mercados que vendem algumas peças de decoração, a maioria das quais de má qualidade e de mau gosto, mas, no cômputo geral, é preciso procurar. Comida, especialmente. Se o perú está excluído por questões financeiras, ainda cá tenho umas postas de bacalhau e compram-se no mercado uns camarões e uns bifes de frango e tal. E presentes, claro. Basicamente, para mim mesmo.
Amanhã à noite: para quem está habituado aos históricos sons e odores da Basília de Mafra, nem pensar meter os pés na missa de Natal da irlandesa e dominicana Igreja de St. Dominic's aqui das redondezas, um cru bloco de betão da década de setenta. O melhor que se arranja: Sacred Hearth Cathedral, a igreja que serve de epicentro da comunidade católica indiana, com a Conferência Episcopal logo ao lado. Mas, dizem-me ao telefone, a missa do Galo, à meia-noite, é "open-air". Estão dois graus e meio à noite. Mas pronto. Lá pelas dez e meia vou junto com vários amigos e colegas. Curiosamente, a maioria são hindus, muçulmanos e budistas: acompanham-me para observar. Observadores, portanto. Pelo menos não vou sozinho. Mas talvez seja acusado de andar a converter a nova geração. Mas eles já estão mais convertidos do que eu.
Segunda de manhã: pequeno-almoço no círculo privado aqui em casa (embora o Tyler se tenha escapado para a Califórnia natal) e depois o tal banquete natalício com os mesmos amigos da véspera. Vai ser difícil, mas o objectivo é empaturrá-los e, assim, dar-lhes a entender o fundamento essencial do Natal. E troca de presentes, é claro. Cada participante foi intimidado a trazer um presente no valor máximo de 50 Rupias, isto é, 95 cêntimos.
Pessoalmente eu testemunho, é certo, uma degeneração natalícia. Depois de ter passado todos os Natais da minha vida no seio da família, e quase sempre na mesma casa, no Rogel, passei os dois últimos Natais em Goa, mas, pelo menos, na companhia de parentes próximos e num ambiente natalício goês que tão convidativo é. Este ano não tem precedentes: Natal em Nova Deli, sozinho. Mas é também uma espécie de iniciação, criando experiência futura para inovar, adaptando a tradição às circunstâncias do presente.
Imagens de Deli: India Gate

Os três braços das Forças Armadas da Índia revezam-se na guarda, em partes iguais de oito horas cada por dia, sob olhar atento das suas respectivas bandeiras. Mas, formalidade, história e honra à parte, o India Gate é hoje pouco mais do que um local de convívio para turistas indianos e para, ocasionalmente, uma paragem apressada de um grupo de turistas estrangeiros. Sob olhar atento de polícias fortemente armados, há dezenas de vendedores ambulantes que vendem de tudo um pouco: pipocas, balões, brinquedos e gelados. Nos relvados circundantes amontoa-se o respectivo lixo.
Quando está muito calor, no verão, as crianças dos turistas domésticos chapinham na água suja (mas limpa, para eles) de dois canais paralelos à avenida e ao arco. A política só aqui chega quando, muito raramente, alguma associação convoca um protesto ou uma manifestação. Nesse caso os turistas fogem e a polícia aperta o cerco e a concentração tem boas hipóteses de acabar com umas bastonadas. Mas nunca chega a martírio.
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
Cultura climática
É algo que observo novamente na Índia. A cultura vestuária de um povo nunca é estritamente proporcional às condições climáticas do respectivo contexto geográfico em que vive. Aqui o inverno, embora seja mais frio do que em Portugal, é negiligenciado.
Os acabementos das casas são hostis à conservação do calor e abrem-se e deixam-se abertas inúmeras brechas pelas quais entre o gélido vento dos Himalaias. As janelas, como que querendo servir somente o calor veranesco, teimam em não fechar completamente. As portas, mesmo fechadas, são um convite à circulação aérea. Do chão - de pedra - irradia um gelo mármore. Os riquexós têm só uma capinha lateral mínima, para baixar e cortar o vento gélido logo que se esteja em movimento.
As pessoas também não se vestem de forma apropriada. Um cachecol ou outro, talvez uma camisola fininha ou - raramente - um blusão de cabedal, mas é sempre uma cultura vestuária deficitária tendo em conta as temperaturas e os ventos exteriores. Anda tudo de chinelos e estão 6º.
É símbolo da pobreza, claro, dirão. Também, mas não só. Falo da classe média que vive aqui na minha vizinhança. Têm carrões à porta, mas escolhem viver assim o inverno, de havaianas no pé. Porquê? Por que é a sua própria cultura climática - esta sim, pobre. Pode ser um sinal de desenvolvimento. Qual é a percentagem que um agregado familiar adjudica para fazer face ao clima? Mínima, no caso indiano, e máxima, provavelmente, nos países mais desenvolvidos da Escandinávia. Há portanto uma correlação, embora, na minha opinião, fraca e condicionada a contextos climáticos, hábitos e práticas culturais específicas.
É como em Portugal. Naquelas duas ou três semanas do ano em que faz mais frio, anda tudo à rasca, desenrascando-se com umas camisolas extra e tal. Anda tudo a tremelicar e à espera que a temperatura volte a subir. Não há investimento nums bons e quentes cascacões forrados de lã, num impermeável, num cachecol quente. O mesmo aplica-se à Índia, no meu entender.
E quando feito, em ocasiões raras, o investimento é mal aplicado ou mal gerido. Cinemas e estabelecimentos comerciais melhores instalam sistemas de ar-condicionado, mas deixam portas abertas e fica tudo na mesma (menos a contabilidade), ou põem aquilo a uma temperatura tão excessiva que faz todos os clientes suar.
De forma geral, os indianos não têm uma cultura climática muito desenvolvida. Aqui as pessoas aguentam-se e adapatam-se ao clima. Não o pretendem domar, ainda. Muito por causa da falta de condições materiais, é certo, mas também como filosofia de vida: quem somos nós para querermos domar o clima e a natureza?
Os acabementos das casas são hostis à conservação do calor e abrem-se e deixam-se abertas inúmeras brechas pelas quais entre o gélido vento dos Himalaias. As janelas, como que querendo servir somente o calor veranesco, teimam em não fechar completamente. As portas, mesmo fechadas, são um convite à circulação aérea. Do chão - de pedra - irradia um gelo mármore. Os riquexós têm só uma capinha lateral mínima, para baixar e cortar o vento gélido logo que se esteja em movimento.
As pessoas também não se vestem de forma apropriada. Um cachecol ou outro, talvez uma camisola fininha ou - raramente - um blusão de cabedal, mas é sempre uma cultura vestuária deficitária tendo em conta as temperaturas e os ventos exteriores. Anda tudo de chinelos e estão 6º.
É símbolo da pobreza, claro, dirão. Também, mas não só. Falo da classe média que vive aqui na minha vizinhança. Têm carrões à porta, mas escolhem viver assim o inverno, de havaianas no pé. Porquê? Por que é a sua própria cultura climática - esta sim, pobre. Pode ser um sinal de desenvolvimento. Qual é a percentagem que um agregado familiar adjudica para fazer face ao clima? Mínima, no caso indiano, e máxima, provavelmente, nos países mais desenvolvidos da Escandinávia. Há portanto uma correlação, embora, na minha opinião, fraca e condicionada a contextos climáticos, hábitos e práticas culturais específicas.
É como em Portugal. Naquelas duas ou três semanas do ano em que faz mais frio, anda tudo à rasca, desenrascando-se com umas camisolas extra e tal. Anda tudo a tremelicar e à espera que a temperatura volte a subir. Não há investimento nums bons e quentes cascacões forrados de lã, num impermeável, num cachecol quente. O mesmo aplica-se à Índia, no meu entender.
E quando feito, em ocasiões raras, o investimento é mal aplicado ou mal gerido. Cinemas e estabelecimentos comerciais melhores instalam sistemas de ar-condicionado, mas deixam portas abertas e fica tudo na mesma (menos a contabilidade), ou põem aquilo a uma temperatura tão excessiva que faz todos os clientes suar.
De forma geral, os indianos não têm uma cultura climática muito desenvolvida. Aqui as pessoas aguentam-se e adapatam-se ao clima. Não o pretendem domar, ainda. Muito por causa da falta de condições materiais, é certo, mas também como filosofia de vida: quem somos nós para querermos domar o clima e a natureza?
terça-feira, 19 de dezembro de 2006
Faltam quartos
Yet for all those travelers, India offers only 110,000 hotel rooms. China has 10 times more, and the United States 40 times more. The New York metropolitan region alone has about as many rooms as all of India.
Já sabem, se quiserem visitar-me nos próximos tempos, marcar (o meu) quarto o mais cedo possível. Se não, ponho aqui dez chineses por noite, todos num cantinho. E pagam bem.
Já sabem, se quiserem visitar-me nos próximos tempos, marcar (o meu) quarto o mais cedo possível. Se não, ponho aqui dez chineses por noite, todos num cantinho. E pagam bem.
domingo, 17 de dezembro de 2006
Ele não sabe o que faz
King Jigme Singye Wangchuck said a year ago he would abdicate in favor of Crown Prince Jigme Khesar Namgyel Wangchuck in 2008 as part of a process of adopting a new constitution which would transform the country from an absolute monarchy to a parliamentary democracy.
Ora cá está um acontecimento interessante, porventura inédito: um rei, confortavelmente instalado no poder há quase 30 anos, num país que politicamente falando não interessa nada, casado com quatro irmãs e dono de uma fortuna, decide que está a mais. Abdica para democratizar o país. Perdoemos-lhe. O homem não sabe o que faz.
Redescobrindo: Deli!
Está visto que em Belém não lêem a série Redescobrindo de A Vida em Deli. É pena, porque assim escrevem mal. O próprio nome da capital.
Presidente da República efectua Visita de Estado à Índia entre 10 e 17 de Janeiro. Em resposta a um convite do Presidente da República da Índia, Dr. Avul Pakir Jainulabdeen Abdul Kalam, o Presidente da República Portuguesa e a Dra. Maria Cavaco Silva efectuarão uma Visita de Estado àquele País, entre 10 e 17 de Janeiro próximo, deslocando-se a Nova Delhi, Goa, Bombaim e Bangalore.
Presidente da República efectua Visita de Estado à Índia entre 10 e 17 de Janeiro. Em resposta a um convite do Presidente da República da Índia, Dr. Avul Pakir Jainulabdeen Abdul Kalam, o Presidente da República Portuguesa e a Dra. Maria Cavaco Silva efectuarão uma Visita de Estado àquele País, entre 10 e 17 de Janeiro próximo, deslocando-se a Nova Delhi, Goa, Bombaim e Bangalore.
Jantar inter-religioso
Eu sei que pode parecer lamechas, mas enquanto jantava com uns amigos, ontem, aqui em casa, não pude deixar de reparar na constelação inter-religiosa que estava sentada à mesa: um cristão católico português (eu, acho), uma budista teravada tailandesa, um muçulmano sunita caxemire e uma hindu brâmane indiana. É óbvio que falámos de tudo, menos de religião. E que depois fomos ao cinema ver um filme norte-americano.
Acordo nuclear, mas não exagerar
Horas antes do final da legislatura, o 109º Congresso dos EUA aprovou ontem um polémico acordo com a Índia, que permite a venda de combustível nuclear a Nova Deli, pela primeira vez em 30 anos.
quinta-feira, 14 de dezembro de 2006
Questões nenhumas
Uma questão de tamanho. A dimensão dos preservativos está a preocupar as autoridades de saúde na Índia (...) A medição precisa dos pénis de 1200 indianos (até ao último milímetro), conclui que 60% dos homens têm menos três a cinco centímetros que os padrões internacionais.
Quando li a respectiva "notícia", há uns dias, num jornal indiano de duvidosa e sensacionalista qualidade (o sempre genial Times of India), como que por intuição e reacção pavloviana, pensei: ora aqui está um assunto sobre a Índia a que, aposto, a comunicação social portuguesa vai dar grande relevo.
Ora bem, nada mais, nada menos do que no "meu" Expresso (entre muitos outros jornais), cá está o assunto repescado das agências internacionais e re-escrito em tons (pouco) humorísticos. É um bom exemplo da maneira com que a nossa imprensa (salvo raras excepções, como o Público e, obviamente!, o Internacional do Expresso) tem escolhido abordar a Índia. Ignorando mil e uma questões de grande importância e interesse (humorístico incluído) e abraçando questões nenhumas como esta.
Quando li a respectiva "notícia", há uns dias, num jornal indiano de duvidosa e sensacionalista qualidade (o sempre genial Times of India), como que por intuição e reacção pavloviana, pensei: ora aqui está um assunto sobre a Índia a que, aposto, a comunicação social portuguesa vai dar grande relevo.
Ora bem, nada mais, nada menos do que no "meu" Expresso (entre muitos outros jornais), cá está o assunto repescado das agências internacionais e re-escrito em tons (pouco) humorísticos. É um bom exemplo da maneira com que a nossa imprensa (salvo raras excepções, como o Público e, obviamente!, o Internacional do Expresso) tem escolhido abordar a Índia. Ignorando mil e uma questões de grande importância e interesse (humorístico incluído) e abraçando questões nenhumas como esta.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2006
Pedro Adão (1969-2006)
Avisado por uma breve notícia do Correio da Manhã, e por uma mensagem de alguém no MNE, soube do seu falecimento e, prontamente, noticiei o facto no Supergoa.com. O que me surpreendeu, no entanto, foi o relativo (se não total) silêncio com que a imprensa portuguesa e indiana, goesa em particular, bem como os espaços habituais do mundo cibernético goês e indo-português, brindaram o assunto. Questão, por sinal, mencionada também nas Notas Verbais.
Notas oportunas
Afinal, a menos de um mês da chegada de Cavaco, em visita oficial, há quem dedique algum tempo à análise do actual estado (dormente) das relações entre a Índia e Portugal. Uma excelente perspectiva no blog Notas Verbais, traçando o passado e o actual estado da situação, bem como apontando para eventuais desenvolvimentos futuros.
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
Monges, soldados, comunistas e jovens
Há duas semanas, cruzava eu o centro do poder político indiano, no coração de Deli, num riquexó apressado, observei uma rara e curiosa constelação de pessoas. Em frente a um edifício governamental em que se encontrava o presidente chinês Hu Jintao, de visita oficial à Índia, quatro grupos de pessoas distintos e tão diferentes, cada qual com o seu intuito, mas todos atraídos pela presença do governante chinês.
De vermelho e amarelo, as cores dos seus robes religiosos, monges budistas tibetantos. Velhos e novos, mulheres e homens, sentados ou em pé, todos alinhados pacientemente, silenciosamente. Nem um pio. Olhar calmo, mas determinado. Os mais pequenos saltitam num jogo qualquer. Alguém prepara chá, butter tea.
De camuflagem azulada, pouco apropriada para uma zona urbana, militares da força de choque Rapid Action Force. Munidos de sofisticados bastões e escudos de plexiflex, com capacetes à prova de bala e botas que mais se propiciavam aos lamacentos e gélidos Himalaias. Um pouco entediados, alguns jogavam às cartas.
De bandeiras vermelhas em riste, com a foiçe e o martelo em branco, militantes dos partidos comunistas (Left Parties), ruidosos e cientes de atenção mediática. Aglomeram-se à volta de uma barraquinha decorada com cartazes apelando contra o "imperialismo chinês" e defendendo a libertação do Tibete. Em curso está também uma pequena peça dramática, "street theater" espontâneo.
Já engavetados nas carrinhas de choque, jovens tibetanos mais militantes, prontos para serem levados para a esquadra e, porventura, julgados em tribunal. Não lhes reconheço nada a não ser as cabeças e os olhos que espreitam por detrás dos gradeamentos azulados. De repente, ergue-se um braço e um pano com a bandeira do movimento independentista tibetano. Antes de um polícia atento lhe o rasgar da mão, vislumbro uma cor que envolve o restante braço: o azul claro de um blusão de ganga.
De vermelho e amarelo, as cores dos seus robes religiosos, monges budistas tibetantos. Velhos e novos, mulheres e homens, sentados ou em pé, todos alinhados pacientemente, silenciosamente. Nem um pio. Olhar calmo, mas determinado. Os mais pequenos saltitam num jogo qualquer. Alguém prepara chá, butter tea.
De camuflagem azulada, pouco apropriada para uma zona urbana, militares da força de choque Rapid Action Force. Munidos de sofisticados bastões e escudos de plexiflex, com capacetes à prova de bala e botas que mais se propiciavam aos lamacentos e gélidos Himalaias. Um pouco entediados, alguns jogavam às cartas.
De bandeiras vermelhas em riste, com a foiçe e o martelo em branco, militantes dos partidos comunistas (Left Parties), ruidosos e cientes de atenção mediática. Aglomeram-se à volta de uma barraquinha decorada com cartazes apelando contra o "imperialismo chinês" e defendendo a libertação do Tibete. Em curso está também uma pequena peça dramática, "street theater" espontâneo.
Já engavetados nas carrinhas de choque, jovens tibetanos mais militantes, prontos para serem levados para a esquadra e, porventura, julgados em tribunal. Não lhes reconheço nada a não ser as cabeças e os olhos que espreitam por detrás dos gradeamentos azulados. De repente, ergue-se um braço e um pano com a bandeira do movimento independentista tibetano. Antes de um polícia atento lhe o rasgar da mão, vislumbro uma cor que envolve o restante braço: o azul claro de um blusão de ganga.
sábado, 9 de dezembro de 2006
De tudo um pouco, menos da Ásia
Numa grande entrevista no Público de hoje, o nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, reconhece que o dossier constitucional vai pesar significativamente na presidência portuguesa da União Europeia e alerta para um conjunto de outras prioridades, como África, o espaço mediterrânico, o Médio Oriente, a Europa de Leste, o fundamentalismo islâmico ("que constitui hoje o principal factor de instabilidade do sistema internacional"!), o Líbano, a Turquia etc. e tal. Tudo e mais alguma coisa portanto, no que a entrevistadora Teresa de Sousa resume como uma "Presidência de alto risco".
Alto lá. Impressionante. Uma presidência europeia do nosso país, mas nem uma única menção ou palavra ao continente asiático e aos importantes desafios (mesmo que a longo termo) que a sua emergência coloca à Europa. Ainda por cima quando as duas cimeiras anuais UE-China e UE-Índia calham exactamente nos "nossos" seis meses. Ignorância, negiligência ou prioridades trocadas? Talvez de tudo um pouco, à boa maneira da nossa tradicional política externa.
Alto lá. Impressionante. Uma presidência europeia do nosso país, mas nem uma única menção ou palavra ao continente asiático e aos importantes desafios (mesmo que a longo termo) que a sua emergência coloca à Europa. Ainda por cima quando as duas cimeiras anuais UE-China e UE-Índia calham exactamente nos "nossos" seis meses. Ignorância, negiligência ou prioridades trocadas? Talvez de tudo um pouco, à boa maneira da nossa tradicional política externa.
Imagens de Deli: Indo-portugueses de Cochim

(Fevereiro 2005)
Seminário internacional discute fortalezas portuguesas da Índia
Constantino Hermanns Xavier (enviado a Cannanore)
A histórica cidade de Cannanore, no estado indiano de Querala, acolheu esta semana o seminário internacional "Feitorias e Fortalezas Portuguesas na Índia", uma organização do Instituto indiano para a Investigação em Ciências e Sociais e Humanas (Kannur) com o financiamento da Fundação Oriente e apoios da Fundação Calouste Gulbenkian e Instituto Camões.
Dezenas de historiadores internacionais abordaram a temática da expansão militar portuguesa no subcontinente indiano nos séculos XVI e XVII, focando particularmente a fortaleza de St. Ângelo (Cannanore) que o organizador do evento e especialista em história indo-portuguesa, K. S. Mathew, considera ser "a mais antiga fortificação portuguesa intacta na Índia, fazendo parte da rede de fortalezas planeada pelo primeiro Vice-rei da Índia, D. Francisco de Almeida, ao longo da costa ocidental". O seminário comemora o quinto centenário sobre a colocação da pedra fundadora da fortaleza em 1505.
Depois de uma primeira passagem de Vasco da Gama, a presença portuguesa em Cannanore consolidou-se em 1501 com o estabelecimento de relações diplomáticas entre Pedro Álvares Cabral e o rei local e a edificação de uma feitoria. Afirmando-se rapidamente como ponto estratégico na expansão portuguesa na Índia, Cannanore chegou a contar em 1523 com 700 habitantes cristãos e uma vasta população de lusodescendentes, resultado da política de casamentos mistos iniciada por Afonso de Albuquerque. A fortaleza passou em 1663 para domínio holandês.
O seminário marcou também mais uma etapa no degelo entre as comunidades académicas portuguesas e indianas. Sérgio Mascarenhas de Almeida, delegado da Fundação Oriente na Índia, defende que "o discurso historiográfico indo-português é hoje menos ideológico e neste seminário há já uma nova geração de investigadores indianos com novas imagens acerca de Portugal". Referindo-se à polémica luso-indiana aquando das comemorações do quinto centenário da chegada de Vasco da Gama à Índia em 1998, afirma que "resta saber se os académicos portugueses e indianos têm agora a capacidade para passar a mensagem para as respectivas sociedades civis, para que os erros não se repitam". Do lado indiano K. S. Mathew também assume uma transformação: "Estamos a preencher um vácuo académico. Temos conseguido realizar diversos seminários indo-portugueses e manter-nos longe das correntes anti-portuguesas e dos discursos fundamentalistas".
Outras comunicações apresentadas durante o seminário incluíram "As estratégias comerciais e militares portuguesas no Oceano Índico" por Pius Malekandathil, "Desenvolvimento urbano de Nagapatão sob domínio português (1542-1658)" por Jayaseela Stephen e "A organização da Santa Casa de Misericórdia em Cannanore" por James John.
Entre as presenças portuguesas destacaram-se as comunicações de Zoltan Biederman, da Universidade Nova de Lisboa, que analisou o desenvolvimento urbano da cidade ceilonesa de Colombo sob domínio português e holandês, e de Vítor Rodrigues, do Instituto de Investigação Científica Tropical, que apresentou um trabalho desenvolvido em colaboração com João Paulo Oliveira e Costa sobre Lourenço de Brito, primeiro capitão de Cannanore. Já Luis Dias Antunes, do mesmo instituto, estudou o papel de Inácio Sarmento de Carvalho, último Governador português de Cochim (1661-1663).
De baixa
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
Atlântico: Recensão
Excerto da recensão que escrevi sobre o livro que já aqui tinha comentado. Na revista Atlântico deste mês, já nas bancas. Onde, por sinal e por erro infeliz, falta a minha habitual e mensal crónica Passagem para a Índia. Mas para o mês há mais.
Ashutosh Seshabalaya, Made in Índia, Lisboa, Centro Atlântico, 2006, 388 pp.
Por Constantino Xavier
"Oriundo “de uma família de notáveis da Índia”, representa uma elite que vive um momento de êxtase e de afirmação, tanto na diáspora, bem como nos corredores diplomáticos de Nova Deli, na bolsa Sensex de Bombaim e nos parques tecnológicos de Bangalore. A sua prosa é, por isso, material indispensável para uma abordagem sociológica aos que estão por trás da emergência indiana, aos seus interesses económicos pró-ocidentais, bem como aos seus complexos históricos e políticos, pós-colonialistas e anti-ocidentais."
Jantar ex-presidencial
Jantar hoje, na residência do nosso embaixador, com Jorge Sampaio, esposa Maria José Rita e filhos Vera e André. Estão de visita (privada) à Índia, nos próximos dias. Como seguem cedo de manhã para Agra, não deu para grandes conversas, mas não deixou de ser uma honra jantar à mesma mesa do nosso ex-Presidente e da sua família e partilhar da sua rica experiência. Está, aliás, agora ao serviço das Nações Unidas, no combate mundial contra a tubercolose. A Indonésia (de onde veio ontem e onde discursou numa conferência internacional em Jacarta), a China e a Índia registam, juntas, quase metade dos novos casos anuais da doença.
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