quinta-feira, 31 de maio de 2007

Dentro de momentos...

Perante diversos pedidos e interrogações que me chegaram durante estes últimos dias menos actualizados, declaro que esta vida em Deli continua, dentro de momentos (menos ocupados).

domingo, 27 de maio de 2007

Filmes de Deli: Amchem Noxib

Goa, outros tempos. Um excerto de Amchem Noxib (Goa, 1962), com Rita Lobo cantando Mollbavelo Dhou. O filme é um dos maiores clássicos do cinema goês, que floresceu nos anos 60, pocurando transpôr e adaptar o tiatr goês para a tela cinematográfica, em Concani, é claro.

Talvez reflexo da minha condição diaspórica de segunda geração, não hesito em nomear este como um dos meus filmes preferidos, representando um pouco de tudo o que hoje associamos a uma Goa autêntica. Incluí-o aliás no ciclo "Goa em Imagens" que coordenei no Museu Nacional de Etnologia, em 2003, no âmbito do Dia de Goa, Damão e Diu. Foi este o texto que o acompanhava no programa:

"Um clássico do cinema goês, com belíssimas prestações de Anthony Mendes, C. Álvares, Ophelia Cabral e Souza Ferrão, entre outros grandes nomes do “tiatr”. Uma oportunidade única para rever as lindas imagens da Goa dos anos 60 num filme acompanhado de música excepcional e muita comédia, com as típicas intrigas de aldeia e belas histórias românticas. É daquelas produções que delicia qualquer amante do bom cinema e que inclui algumas hilariantes cenas de acção com carros e galinhas pelo meio...!"



Do mesmo filme, outros excertos musicais:
http://www.youtube.com/results?search_query=AmchemNoxib

Educação

Foram ontem divulgados os resultados das provas de acesso ao ensino superior indiano, com um anúncio do Central Board of Secondary Education. O mais interessante é que quase todos os principais títulos da imprensa dedicaram uma generosa mancha de primeira página ao assunto, desenvolvendo a temática ao longo de várias páginas, no interior.

O que é que leva estes jornais dedicarem tamanha importância aos resultados de uns exames de acesso ao ensino superior que, em Portugal e em muitos outros países, só dariam uma notícia menor? É, mais uma vez, a obsessão pela excelência, a procura de mérito e do status social por via da educação. A cobertura detalha, de forma exaustiva, factos e números, sublinha os poucos que conseguiram o pleno (100%, incluindo em Inglês!), observa o maior sucesso das raparigas, compara o ensino público ao privado... mas esquece as castas?

Simples esquecimento? Creio que não. O facto de, na extensa análise jornalística, quase não haver uma única menção ao tão omnipresente facto que é a casta na Índia, representa a imensa confiança que os indianos depositam no sistema de educação, isto é, na educação como rampa de lançamento meritocrático para outros vôos. Assim se explica também a imensa importância que a imprensa dedicou ontem aos resultados, ilustrados por fotografias com jovens (principalmente raparigas) sorridentes, saltando de alegria. É como se dissesse: "Caro leitor pai ou leitor adolescente. Cá estão os vencedores. Onde está você?".

Imagens de Deli: Torre do Convento dos Agostinhos (Goa)

sábado, 26 de maio de 2007

Vias de sentido único e desenvolvimento

Há vários anos, media-se o nível de desenvolvimento de um país recorrendo ao seu produto nacional bruto ou interno. Depois, surgiu a mescla de critérios que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano, patrocinado pelas Nações Unidas. Mais recentemente, surgiu o índice de Felicidade Nacional Bruta, que ganhou popularidade após ser noticiado que é utilizado, de forma oficial, no reino do Butão. Mas eu proponho um outro índice de desenvolvimento, inspirado na minha experiência rodoviária em Deli.

Numa das suas estreitas ruelas, manobrando a minha mota para passar por entre um camião, dois jeeps estacionados, três bicicletas e quatro transeuntes, notei que não me lembro de uma única via de sentido único em toda a cidade. Há algumas avenidas maiores de sentido único, mas nas zonas urbanas (onde mais são precisas, para proteger os trenseuntes e reduzir o tráfego) não me lembro de uma única. Tendo em conta, em especial, o nível e a qualidade de vida das pessoas nas zonas urbanas, proponho assim o índice seguinte: número de ruas de uma certa cidade dividido pelo número de ruas de sentido único. A adoptar, tenho a certeza que este índice colocaria Deli bem no fundo de um hipotético ranking mundial.

E a Índia?

Numa excelente iniciativa, o Instituto de Estudos Superiores Militares organizou, esta semana, um seminário internacional dedicado à temática "A proliferação e o Combate à Proliferação de Armas de Destruição Massiva (ADM). Estratégias de Resposta da UE". No programa, recheado de oradores do mundo inteiro observo, no entanto, a ausência de alguém da Índia, especialmente no painel "Outras Perspectivas". Não será este o melhor exemplo para lançar críticas, porque o seminário consegue fazer uma coisa rara no nosso país: auscultar outras perspectivas, incluindo as da Rússia e da China. Mas, em termos gerais, começa a ser crónica, a falta de atenção e de estudo que, em Portugal, dedicamos à Índia.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Imagens de Deli: Estacionamento de motorizadas

É aqui, com este meu senhor amigo, que eu deixo a minha vespa sempre que me desloco a Basant Lok, a zona comercial mais moderna na proximidade. Pago 5 Rupias (ca. de 10 cêntimos de Euro) e posso deixá-la lá, segura, por várias horas. É ele que a estaciona e também ele que a retira do estacionamento, logo que eu volte. Aos fins-de-semana costuma estar um pouco alcoolizado, mas nunca demais. Estes parques de estacionamento (há-os também para automóveis e bicicletas) são todos autorizados pelo Município de Deli e todos os arrumadores são oficialmente reconhecidos.

Redescobrindo: Gurgão

A imensa urbe suburbana da capital, centro de todas as atenções económicas no Norte da Índia, e também do mundo, dá, na minha opinião portuguesa, pelo nome de Gurgão. Não vejo nenhuma razão, tendo em conta os meus critérios adoptados nesta série, para mantermos o anglófono Gurgaon, com aquela consonante final impronunciável para a língua lusófona. Respeitando os sons e pronúncias das línguas vernaculares indianas, temos aliás uma vantagem, a nasalização, que os norte-europeus só dificilmente conseguem replicar (e daí a adenda consonante). A cidade indiana de todos os sonhos, no estado do Hariana, passa a ser, assim, em bom português, Gurgão.

Paraíso profissional... na Índia

A revista alemão Der Spiegel publica na edição passada uma reportagem sobre Gurgão, explorando uma temática curiosa: A Índia como terra de oportunidades (O paraíso profissional de Gurgaon). A ler em conjunto com a reportagem que assinei para a Única do Expresso (Do Porto para Wall Street, via Índia), sobre o Miguel (foto), um jovem licenciado português que por lá trabalha há já mais de um ano, e com a minha introspecção mais recente sobre a natureza urbana daquela cidade suburbana (Gurgão farestina):

Das Jobwunder von Gurgaon (Spiegel, DE)
Aus Gurgaon berichtet Hasnain Kazim
Sicherer Job, festes Einkommen, gute Karrierechancen für die Zukunft: Ein indisches Unternehmen lockt deutsche Hochschulabsolventen mit dem, was sie zu Hause nicht bekommen. Die Gastarbeiter lernen in der Ferne sogar, von Mini-Löhnen zu leben - und sind begeistert.

Ala liberal

Aqui e acolá, timidamente, assiste-se à emergência de um discurso liberal mais confiante e normalizado na Índia. O discurso liberal indiano, na minha opinião, não inclui automaticamente todos os que se opõe e denunciam o nacionalismo hindu e os extremismos étnico-religiosos que proliferam pelo país. Isso significa que eu não incluo pessoas como Arundhati Roy nesta ala liberal, nem o imenso movimento comunista e de Esquerda (partidarizado, ou não). Têm um papel determinante na defesa de democracia liberal, mas não me parecem ser liberais, pelo menos no sentido puro da palavra.

A ala liberal a que eu me refiro, tímida e ressurgente (porque chegou a respirar intelectualmente nos anos sessenta), encontra-se, por exemplo na semana passada, na voz de Ramachandra Guha e de Vir Sanghvi.

O primeiro, numa entrevista ao semanário Tehelka, sobre o seu interessante livro India After Gandhi, refere que "Before the Left achieved ascendancy, there was a strong school of liberal intellectuals, nurtured by the national movement. People like DR Gadgil, MN Srinivas, Rajni Kothari, André Béteille" e assume-se repetidamente, como um "liberal constitutionalist", eu destacando duas afirmações que me parecem muito importantes neste contexto liberal:

"I prefer an elegant, understated style. Arguments must not be made by hyperbole — one person dies in a shooting and you call it Jallianwala Bagh; dams are like nuclear weapons — that’s hyperbole. I have a distaste for that"

"You have a debate on globalisation, you will have Vandana Shiva on one side and Gurcharan Das on the other — what are you going to get out of it? You and I will not be there in a debate on secularism, there will be a mullah and Pravin Togadia. Complex problems require nuanced understanding and debate, you are not going to get that in a theatre of extremes and exaggerations"

A urgência com que a moderação é reivindicada por Guha assume, na minha opinião, a explicação pela qual ele se define como um liberal. É assim que se compreende também o excelente texto que Vir Sanghvi assinou no Hindustan Times de Domingo passado, comentando as crescentes ameaças extremistas, especialmente por parte do nacionalismo hindu, à liberdade de expressão artística:

"If you want to take a liberal stand on this issue, then there is only one position that you can take and still remain ideologically consistent: every artist is free to paint any religious figure he likes, in any form or activity of his choice. If that means copulating Hindu gods, joyous portraits of the Prophet or Jesus Christ engaged in deviant activity –– well then, that’s just too bad. Once you accept the principle of artistic freedom of exhibition, then you have to extend it to every religion and to every kind of painting or artistic representation. Personally, I am quite willing to take this position".

Será interessante observar de que forma o sempre expectante complexo partidário indiano procurará e saberá, ou não, dar voz a estas embrionárias vozes liberais, concentradas nos espaços urbanos, especialmente nos focos mais cosmopolitas e ocidentalizados da classe média.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Imagens de Deli: Foreign Students' Association

Um cartaz da Associação de Estudantes Estrangeiros, na Universidade Jawaharlal Nehru

Domingos matrimoniais: Gujarati Vaisnah

No Times of India de Domingo passado:

" ALLIANCE invited for Mumbai Based Smart Aircraft Engineer from small Happy Family 24-12-72, 5' 11'' Girls from Vaishnav and Brahmin Family Contact with B/H/P at zrndalal@... Tel. - 267... "

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Blog Atlântico: A morte do eurocentrismo


Henrique Raposo, o meu colega atlântico, numa recensão dominical a "After Tamerlane, A Global History of Empire", de John Darwin:

"É bom lembrar que em 1750 existia um equilíbrio económico entre a zona europeia e a zona asiática (China e Índia eram as maiores economias do mundo). Hoje, a grande divergência económica entre o Ocidente e a Ásia (que ocorreu entre meados do século XIX e meados do século XX) está a dar lugar a uma grande convergência. Os asiáticos estão a recuperar o lugar que lhes pertence. Estamos a voltar ao equilíbrio de 1750.

Nos últimos anos, devido à crise transatlântica, muitos intelectuais assinaram a certidão de óbito do Ocidente. Enganaram-se. Aquilo que morreu recentemente não foi o Ocidente (projecto político e moral), mas sim o eurocentrismo (o hábito intelectual que coloca o espaço euro-atlântico no centro do mundo, como único factor de acção e mudança).

O período de total predomínio ocidental sobre o resto do mundo foi apenas um pequeno interlúdio do qual os nossos avós e pais usufruíram. Nós, em 2007, já não fazemos parte dessas gerações de ocidentais privilegiados. A era da tutela ocidental sobre o resto do mundo acabou. Habituemo-nos."

Sobre a mesma temática, dois meus comentários a outras tantas citações no Público de hoje, no blogue da Atlântico: "Etc." e "Muito verdade".

sábado, 19 de maio de 2007

Imagens de Deli: Praia de Galgibaga (Goa)

Santuário natural para as tartarugas gigantes Olive Ridley (Lepidochelys olivacea) que aqui vêm dar à costa para enterrarem dezenas de ovos. Há poucas décadas, ainda davam à costa por todo o território de Goa. Mas, com a intensa pressão turística e destruição da orla costeira, encontram-se actualmente em perigo de extinção.

Filmes de Deli: Namastey London

Para quem quiser compreender a forma complexa com que as gerações mais novas de indianos procuram renegociar os termos de relacionamento com o Ocidente, não haverá filme mais recomendável do que este Namastey London.

A história não diverge muito do enredo típico dos filmes Bollywood sobre a diáspora indiana, actualmente muito na moda. Em Londres, os pais indianos querem arranjar um casamento para a sua bela filha Jasmeet (Katrina Kairf) que, no entanto, vive fascinada pela cultura ocidental e olha de soslaio para a Índia: prefere falar em inglês, recusa o nome indiano e adopta uma alcunha trendy (Jazz), gosta de sair à noite e tem um namorado aristocrata inglês (Clive Stande, que assume o papel de "Charlie Brown").

Jasmeet embarca assim, contra a sua vontade, com os pais, para a Índia, redescobrindo-a em confrontação, com epicentro na aldeia natal do pai, num feudo rural do Punjab. É aqui que emerge o campónio Arjun (Akshay Kumar), intelectualmente limitado mas com um belo coração que logo se apaixona pela indiana diaspórica.

Para escapar à pressão, Jasmeet torna-se maquiavélica. Deixa-se casar com Arjun (numa cerimónia tradicional) só para poder voltar para o seu namorado em Londres, onde anuncia à família que o laço matrimonial contraído na Índia é legalmente inválido no Reino Unido, por falta de qualquer documento comprovativo. É uma vingança dirigida aos pais, mas é Arjun, abandonado em Londres, sem saber falar inglês, que é a principal vítima do fogo cruzado inter-geracional.

A dicotomia maniqueísta do director Vipul Amrutlal Shah assume assim, a meio do filme, contornos explícitos: Jasmeet iludida pelo Ocidente anuncia o seu casamento com Charlie que, por esta altura, já deu a entender que é um playboy milionário que se está nas tintas para Jasmeet e se recusa a defendê-la contra as insinuações racistas dos seus familiares. Aqui está então a diaspórica indiana degenerada, pronta para ser devorada pelos brutos e reacionários ocidentais (outro exemplo: o seu amigo paquistanês recusa casar-se com a sua namorada inglesa porque os pais dela o obrigam a converter-se ao... Catolicismo!).

O momento alto do filme é, sem surpresa, um discurso de Arjun sobre alguns factos e números que supostamente reflectem a grandeza da Índia. Durante a cerimónia de anúncio do noivado entre Jasmeet e Charlie, um tio do noivo, ex-militar britânico na Índia, provoca Jasmeet e outros indianos com comentários racistas (equiparando os indianos a macacos, entre outras piadas). Emerge então Arjun, com uma "lição" que deixa os ocidentais boquiabertos:





O tremendo sucesso deste filme deve-se, na minha opinião, acima de tudo a este discurso. É, sem dúvida, "ridículo", porque explicitamente nacionalista. É também curioso, porque escolhe critérios de grandeza que reflectem termos impostos pelo colonialismo, pela modernidade e, assim, pelo Ocidente: secularismo, crescimento económico, ciência, militarismo, educação etc.

A estratégia não é nova: já no início do século XX, durante a sua luta contra o colonialismo britânico, uma das principais estratégias indianas passava por demonstrar que podiam derrotar os britânicos no seu jogo, o críquete de que tinham sido impedidos de participação durante tantos anos (um déja vu em Namastey London, onde a equipa indo-paquistanesa composta por familiares de Jasmeet derrota os britânicos liderados por Charlie, num jogo de râguebi). Ganhar aos colonizadores no críquete representava o domínio de uma técnica e de instrumentos que, no discurso colonialista, nunca poderiam ser dominados pelos autóctones.
O facto de este discurso de Arjun ser a parte mais visualizada do filme no YouTube e uma leitura dos vários comentários com que o discurso é elogiado, é demonstrativo da imensa vontade de afirmação entre as novas gerações indianas. É uma necessidade pós-colonial de afirmação em termos de igualdade para com o ex-colonizador (em termos gerais, o Ocidente) que pode assumir atributos radicais, nomeademente no caso do nacionalismo hindu.

É neste sentido que devo admitir que compreendo o sucesso, e também a mensagem, deste filme. Não concordo, mas compreendo, porque é, nada mais, nada menos, do que uma simples resposta, uma reacção, à forma discriminatória e racista com que os indianos são muitas vezes recebidos no Ocidente e à forma, ainda condescendente, com que a Índia é tratada no Ocidente.

É fácil de mais acusarmos os aplausos indianos a Namastey London de racistas e nacionalistas, porque somos nós mesmo que criamos as condições para o sucesso de um filme com uma mensagem destas. É por isso mesmo que recomendo vivamente Namastey London a todos os que querem compreender o que vai na mente de muitos jovens indianos. Antes de, mais uma vez, levantarmos o nosso dedo inquisidor, cheio de moral e pedagogia.

A ameaça do neo-orientalismo

É impressionante. 2007 marca claramente a descoberta da Índia, em peso, pelas gerações mais novas de portugueses. Durante os últimos meses tenho recebido dezenas de pedidos de amigos, amigos de amigos, de primos de amigos, entre outros, todos pedindo informações sobre locais a visitar, alojamento, preços etc.

Começa assim, a haver uma cultura backpacking lusa, distinta das demais nacionalidades que vadiam pela Índia. Nos hotéis os recepcionistas já não nos dizem que "you are the first Portuguese guest I have had". Já acontece ouvir-se falar em português no centro de Deli. Já não se contam pelos dedos os portugueses que se encontram na cidade capital. Encontro um, e este conta-me logo que sabe de outros, que encontrou por acaso durante a viagem ou com quem combinou encontrar-se aqui ou acolá, ao longo da viagem, normalmente em Goa.

Ainda estamos longe do momento em que iremos desprezar e procurar evitar um encontro com conterrâneos nossos na Índia. Isso acontece, actualmente, entre muitos jovens franceses e israelitas, por exemplo. Vão para a Índia à procurda de algo inédito, o eterno off the beaten track, e ficam extremamente arreliados quando por lá encontram um outro seu compatriota. Quase todos munidos dos mesmos guias, quase todos com os mesmos orçamentos e limitações temporais, o encontro é, no entanto, inevitável.

Mas, finalmente, a Índia também passou a estar na moda em Portugal. A minha suposição confirmou-se hoje de manhã, ao ouvir o programa Ambientassons, na Antena 3, um espaço chill-out musical para quem volta das noitadas lisboetas. O DJ Nuno Miguel colocou vários sons indianos, entre os quais um cântico religioso hindu "Ohm Namaya Shiva".

É claro que já há décadas que há jovens portugueses a visitar a Índia. O que é novo é a massificação do fenómeno, reflectindo-se também no facto de os preços de passagens aéreas Lisboa-Nova Deli e Lisboa-Bombaim se encontrarem mais baixos do que nunca, pelo menos nos últimos cinco a dez anos. Da minha parte, só posso registar a mudança com bons olhos: assim já vão mais longe os tempos em que a minha partida para a Índia, há três anos, era vista com incredulidade e equiparada a um desterro para o fim do mundo. E perdem, assim também, acutilância as minhas críticas então dirigidas aos limitados horizontes internacionais dos portugueses.

Mantêm-se, no entanto, a minha denúncia de um certo neo-orientalismo, a que dei expressão em vários escritos meus neste espaço e nas crónicas da revista Atlântico. A forma particular como a Índia é apresentada em Portugal, seja pelo DJ Nuno Miguel na Antena 3 ou pela imprensa no seu tratamento da actualidade política indiana, e a forma particular com que os jovens portugueses apreendem a Índia durante a sua estadia neste país, reflectem certos complexos e ansiedades. A Índia é assim, muitas vezes, vítima de um processo de exotização, assumindo uma identidade e uma carga normativa que são reflexo dos nossos próprios complexos e das nossas ansiedades. Imaginamos a Índia de uma forma prepotente, e muito superficial, de modo a servir os nossos interesses, nomeadamente o de exorcitar aquilo que vemos como limitações da nossa própria cultura e estilo de vida (o excessivo materialismo, por exemplo).

É, portanto, bem-vinda esta descoberta da Índia e a vinda de mais e mais jovens e turistas portugueses. O que importa agora, nesta nova fase que se nos apresenta, é evitar que esta descoberta seja apreendida por um único paradigma, por um código normativo pré-estabelecido, ou seja, por preconceitos. O que importa, agora, é que as inúmeras descobertas individuais possam confrontar-se com a diferença da Índia de uma forma aberta e arejada. Isto é, pluralizar, ao máximo, as formas de interacção com a diferença, libertando-as do presente domínio claustrofóbico de um único paradigma, o neo-orientalista.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

McDonald's

Os McDonald's na Índia estão há quase três anos sem mudarem o menú. Não é preciso. A clientela continua a devorar o logotipo, a imagem de marca, o papel e a cartolina. A comida é o que menos interessa.

Imagens de Deli: Capela na praia (Goa)


Crise de meia idade

Relendo alguns dos meus textos mais antigos e confrontando-me ultimamente com repetidas faltas de inspiração para produzir novos, apercebo-me do facto de estar a viver uma crise de meia idade. É uma crise de perspectiva.

Ao chegarmos à Índia, ou a outro qualquer novo destino e ambiente, tudo nos parece novo e estranho. Cada minuto representa um conjunto de centenas de impressões e percepções que, uma vez em casa, traduzimos para a escrita, na forma de um diário ou de um blogue. Foi assim comigo, nos primeiros anos de Deli. Cheguei a fazer-me acompanhar por um bloco de notas e uma caneta, onde apontava ideias para textos para este espaço. Preparavo-os com cuidado, mas com grande facilidade e naturalidade. Eram só certezas.

Estou agora, como dizia no princípio, numa crise de meia idade. Já não vejo tudo com esses entusiasmados olhos de iniciante, chocado, fascinado e apavorado. As certezas e os contrastes, límpidos e seguros, têm-se transformado, de forma progressiva, em incertezas, dúvidas e imensas zonas acinzentadas. É talvez assim que se explique a minha crítica à forma superficial, como muitas vezes a chamei aqui, com que muitos desses iniciantes reduzem a Índia a um Carnaval de contrastes. Os contrastes são fáceis e confortáveis. Explica-se tudo com os contrastes. Também eu o fiz e ainda me sinto tentado a fazê-lo.

Ora, devo admitir que a Índia é realmente um país de contrastes. Mas é-o só ao primeiro olhar. O problema é que esta crise de idade média não me permitiu ainda aceder a uma nova linguagem conceptual, nem dominar uma nova metodologia e perspectiva para compreender a Índia para além desses contrastes. Isto é, pressinto que há mais, mas sou ainda incapaz de o explorar, compreeder e transmitir.

É aqui que mais se espelham as minhas limitações literárias. A minha agenda diária não me permite desenvolver essas técnicas de que eu me sinto órfão. Essas técnicas só as conseguimos desenvolver, na Índia, com muito tempo, calma e dedicação. O problema é que a Índia nos convida a escrever, mas só poucos realmente sabem passar a Índia para o papel. Há portanto uma proliferação de perspectivas literárias. Qualquer diário de viagem minimamente aceitável dá hoje um bom e bem vendido livro no mercado português. A Índia está na moda e quando as coisas estão na moda a procura sobre e a qualidade desce quase sempre. O mesmo aplica-se, aliás, ao mercado literário indiano, em língua inglesa. O mundo está com vontade de redescobrir a Índia e fá-lo, de forma ávida, por via de centenas de escritores - europeus e indianos - de segunda, que exploram os clichés e as banalidades do costume, os contrastes a abrir.

Há uma última questão que eu gostaria de denunciar. Ao assumir uma crise de meia idade, e afirmar que "sou ainda incapaz de (...) explorar, compreeder e transmitir (a Índia não-superficial)", assumo, de forma subentendida, a real possibilidade de eu, ou alguém, vir a ser capaz de atingir esse nível superior, de apreender uma Índia real e autêntica.

Estou, obviamente, a cair na mesma ratoeira que denuncio quando critico o paradigma dos contrastes. Não há uma Índia real e autêntica, pronta para ser digerida por uma perspectiva, metodologia ou técnica mais "apurada e desenvolvida". O facto de me sentir rodeado, a cada dia que passa, por mais e mais incertezas e dúvidas é um fenómeno de cariz crónico e persistente.

Em vez de a rejeitar e desprezar, talvez deva celebrar esta condição: afinal, são as complexidades das incertezas e das dúvidas que nos despertam a curiosidade e nos encorajam a explorar os vastos interstícios cinzentos da simplicidade superficial que é a Índia dos contrastes, a preto e branco.

«Babuch»

O concani não é bem dialecto, é mais língua, mas não deixa de ser notório o toque étnico goês que os jornalistas têm dado às mini-biografias que por aí andam a circular sobre António Costa, filho de Orlando Costa.

Aos dez anos, com o pseudónimo «Babuch» (menino, em dialecto concani, de Goa), já escrevia críticas de televisão para o Século Ilustrado e conta que decidiu ser socialista aos 12 anos.

Quiosques


Luís Vidigal:

terça-feira, 15 de maio de 2007

Imagens de Deli: Bairro das Fontainhas (Goa)


Sachin Pilot em Portugal

No Supergoa.com:

"Daqui a uma semana, já no âmbito dos Arrábida Meetings (20 a 22 de Maio) coordenados por Lord Carrington (Ex-ministro britânico dos Negócios Estrangeiro), Carlos Monjardino (Presidente do Conselho de Administração da Fundação Oriente) e José Cutileiro (Ex-secretário-geral da União Europeia Ocidental), o deputado Sachin Pilot, do partido do Congresso indiano, intervêm na sessão dedicada à procura de recursos energéticos e matérias primas pela China e pela Índia e o impacte na economia global."

Sobre o mais jovem parlamentar indiano de sempre: Sachin Pilot

The Terminal, versão indiana

Two Bangladeshi men lived in New Delhi airport for 48 days as they did not have passports to return home in a reprise of a role played by Tom Hanks in the Hollywood film "The Terminal," a newspaper said on Thursday. The men were sent back to the Indian capital by Saudi Arabian authorities in March for arriving without proper papers on a Dhaka-Delhi-Riyadh Air India flight, the Times of India newspaper reported.

Imagens de Deli: Bairro das Fontainhas (Goa)


domingo, 13 de maio de 2007

Gurgão farestina

Gurgão (Gurgaon), nos subúrbios de Deli, é o fareste do século vinte e um. É uma das last frontier do capital internacional, a leste. De um dia para o outro a paisagem é rasgada por novas torres, brilhantes e reluzentes. No seu interior recebem-se e enviam-se milhões de dados em fracções de segundo, para Denver, São Paulo, Joanesburgo ou Xangai. No seu exterior as crianças rebolam na lama, cuspindo sangue, enquanto que as mães grávidas carregam sacos de betão nos seus ombros e os pais, semi-alcoolizados, descansam à sombra. Das torres.

Mas para além dos contrastes, a Gurgão farestina também é uma terra de oportunidades, o sonho dos mortais comuns. É possível penetrar o íntimo interior das torres, e todos o sabem, todos o tentam, quase todos o conseguem. Uma vez no seu interior, é subir, piso a piso, até atingir o topo. E no topo há uma plataforma de aterragem para os helicópteros que rasgam o próprio céu.

Gurgão é cosmopolita. Aqui a casta, a língua e outras bagagens culturais são desinteressantes, embora ainda presentes. Para além dos imigrantes do resto da Índia, Gurgão atrai também milhares de jovens, de todo o mundo. Especialmente de países desenvolvidos, da Europa e da América do Norte. Também para eles, recém-licenciados, desempregados ou simplesmente desiludidos, Gurgão é uma terra de oportunidades.

Gurgão encontra-se em eterna construção e ebulição. Tal e qual os xérifes vintecentistas norte-americanos, faorestinos, aqui os polícias andam à caça de gangues criminosos (que também procuram penetrar as torres), há tiroteios e mortes. Há restaurantes e discotecas, mais ou menos cosmopolitas, há restaurantes e, acima de tudo, há muita luz néon, colorida, intermitente.

Para mim, e demais observadores externos e visitantes pontuais, Gurgão representa o fim do mundo e assume assim atributos ameaçadores. É justamente por isso que Gurgão reflecte também o início de um outro e novo mundo. Gurgão é fim e início, ao mesmo tempo.

Tehelka: netistan

No sempre recomendável semanário Tehelka (assinatura anual edição impressa: menos de 2 Euros), um excelente dossier sobre a Internet e as novas gerações indianas, cobrindo diferentes facetas de um país em ebulição.

Imagens de Deli: Bairro das Fontainhas (Goa)

No bairro tradicional das Fontainhas, de arquitectura tipicamente indo-portuguesa e com muita influência colonial portuguesa, uma placa toponímica em azulejo destruída (à picareta) por nacionalistas hindus.

Domingos matrimoniais: Wanted brides/cosmopolitan

No Times of India de hoje:

"A reputed veershaiv family of Pune seeks a beautiful fair looking girl. highly qualified, software engineer or post-graduate; height must be above 5.4'' from respected & pure vegetarian family; for their son 29/6'1'' tall, handsome software engineer working in top, I.T. co., of U.S.A. based at Hinjewadi, Pune. 8.5 lacs p.a. own dux bungalow, car (Hondacity) had been 3 times U.S.A. Elder brother & his wife live in U.S.A. Send Bio-Data & photograph reply. (caste no bar) lalitsb@... Box No: X 4...."

Novidades Supergoa.com

Novidades do Supergoa.com
AGENDA:
A Aula de Marinha de Goa, dos sécs. XVII a XIX (Palestra) Terça, 8 de Maio 2007
http://www.supergoa.com/pt/agenda/agenda_event.asp?c=485

7º Encontro Anual dos Beirenses (Quinta Velanciana) Sábado, 19 de Maio 2007 http://www.supergoa.com/pt/agenda/agenda_event.asp?c=483

Comemorações do 50º aniversário da chegada dos batalhões de caçadores «Da Índia» e «Vasco da Gama" à Índia Portuguesa Sábado, 19 de Maio 2007 http://www.supergoa.com/pt/agenda/agenda_event.asp?c=516

Convenção da Diáspora Goesa - De Goa para o Mundo (Lisboa) Sexta, 15 de Junho 2007 http://www.supergoa.com/pt/agenda/agenda_event.asp?c=499

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Relíquias de rainha ligam Geórgia, Goa e Portugal
Domingo, 6 de Maio 2007
Um artigo que relata a história da rainha geórgia Ketevan, cujos restos mortais uma comissão geórgia afirma ter encontrado recentemente em Goa, nas ruínas do Convento dos Agostinhos, na Velha Goa. Uma reportagem que redescobre uma fascinante história, entre a Geórgia, Goa e Portugal. http://www.supergoa.com/pt/read/news_noticia.asp?c_news=697

Lançado número cinco da Ecos do Oriente Domingo, 6 de Maio 2007 http://www.supergoa.com/pt/read/news_noticia.asp?c_news=696

Nalini de Sousa e Christopher Rego: «Cônsul Pedro Adão encorajou-nos» Sábado, 5 de Maio 2007 http://www.supergoa.com/pt/read/news_noticia.asp?c_news=695

Gigante indiano quer fabricar carros em Portugal Sexta, 4 de Maio 2007 http://www.supergoa.com/pt/read/news_noticia.asp?c_news=692

NOTÍCIAS ANTERIORES:

Macau acolhe Núcleo de Animação Cultural de Goa, Damão e Diu 3/5/2007
Belmonte anuncia Museu dos Descobrimentos 1/5/2007
Matosinhos acolhe um olhar português sobre a Índia 23/4/2007
Renovado o programa de cooperação científica e tecnológica 20/4/2007
Marine engineer from Bihar in Portugal prison 20/4/2007
Faleiro promove centro de estudos indianos em Portugal 17/4/2007
Os novos caminhos para a Índia 16/4/2007
Bardez acolhe Casa dos Dragões goesa
em: http://www.supergoa.com/pt/read/news_ultimas.asp

ÚLTIMAS CRÓNICAS
Goa é a Chave de Toda a Índia (Catarina Madeira Santos)
Categoria: Lendo, vendo e ouvindo
Domingo, 6 de Maio 2007
Uma recensão de Ângela Barreto Xavier a um dos livros sobre a história dos descobrimentos que mais debate tem provocado no meio historiográfico português nos últimos anos. A obra de Catarina Madeira Santos procura compreender as razões pelas quais Goa assumiu um papel central no império português do Oriente. http://www.supergoa.com/pt/read/news_cronica.asp?c_news=698

Famílias Católicas Goesas: entre dois mundos e dois referenciais de nobreza Categoria: Academia
Sábado, 5 de Maio 2007
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José António Ismael Gracias (1857-1919) Categoria: Galeria de Goeses Ilustres
Sexta, 4 de Maio 2007 http://www.supergoa.com/pt/read/news_cronica.asp?c_news=693

40 milhões de novas linha telefónicas fixas Categoria: Newsletters AAPUI
Terça, 1 de Maio 2007 http://www.supergoa.com/pt/read/news_cronica.asp?c_news=689

FÓRUM:
Últimas mensagens • Miséria quase cordia.. • Voltando à carga. • Casa longe... • Viva Afonso de Albuq.. • Piratas... • Outra rectificação • Sim,sim... • Rectificação
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sexta-feira, 11 de maio de 2007

Uma nova era política

Com a impressionante vitória de hoje, nas eleições legislativas no Utar Pradexe (população equivalente a duas Alemanhas), o maior estado indiano, confirma-se a subida ao poder de Mayawati, uma das faces da nova era política que se anuncia na Índia. A seguir, com muita atenção.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Imagens de Deli: Numa estação de comboios

Domingos matrimoniais: shaadi.com

Como não tive tempo de, no passado Domingo, transcrever um anúncio matrimonial do jornal, resta-me recomendar o Shaadi.com: "The World's Largest Matrimonial Service".

Pontes

Quando os mitos da história impedem o desenvolvimento:

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Blog Atlântico: Teoria das Relações Internacionais

Em véspera de exame na cadeira Realism and World Politics, uns comentários meus sobre uma recensão de hoje no Público, e duas escolas rivais na teoria das relações internacionais: o neorealismo e o realismo neoclássico. Aqui.

Imagens de Deli: Basílica do Bom Jesus (Goa)

Leituras de Deli: The Circle of Reason (Amitav Ghosh)

Um autêntica raga literária de um dos mais aclamados escritores indianos anglófonos da actualidade: começa lentamente e arrasta-se por dias inteiros, dando-nos a conhecer uma Calcutá e uma Bengala hoje desaparecidas no meio do fumo das indústrias e da incerteza quanto à forma de preservar a riqueza cultural do passado no electrónico futuro capitalista que se anuncia na voz dos próprios comunistas.

E depois acelera, cruza a Índia até Goa (breves páginas desinteressantes - nem reparei que se tratava de Goa), para embarcar numa genial viagem de traineira curzando o Mar Árabe em direcção a uma mítica cidade no Médio Oriente, onde a narrativa (e a personagem principal, cheia de bolhas na cabeça e dons semi-divinos) se estabiliza.

Só para nos lembrar que uma raga nunca se rende à lentidão e à estabilidade, escapando, de repente, para o magrebino Norte de África onde, depois de uma paragem no deserto, termina com os olhos postos na Europa e algumas mensagens pós-coloniais bem implícitas. Acaba tudo, sempre, por .

A raga como forma literára tem potencial. Ghosh cobre uma década em duas páginas, só para cobrir três minutos em quarenta. E assim sucessivamente, aos soluços, deixando-nos cronologicamente zonzos, mas sempre conscientes. Uma tortura deliciosa.

Para além de todos os escritores indianos da moda - muitos só o são porque dão a conhecer a Índia ao resto do mundo da forma que ele a quer ver - Ghosh encontra especial simpatia em mim pelo facto de nunca se ter rendido às belezas e tentações extra-indianas. Horas depois do tsunami asiático, embarcava para as ilhas Andamão e Nicobar, de onde escreveu um dos melhores ensaios jornalísticos que jamais li na imprensa indiana.

The Circle of Reason é também uma abordagem literária original à essência e aos dilemas do migrante, indiano ou qualquer outro o que o distingue das restantes obras que exploram não mais do que os clichés que começam a envolver a diáspora indiana. The Circle of Reason é um livro que eu recomendo vivamente a quem queira explorar a periferia do mainstream literário indiano.

domingo, 6 de maio de 2007

Blog Atlântico: Economias

Uma minha denúncia do capital móvel internacional, glorificado por alguns em Portugal com recurso ao exemplo pouco apropriado que é a actual economia indiana.

Imagens de Deli: Catmandu

O bêbado

Veste uns farrapos, tem bolhas cobertas de pus e o cabelo acizentado parece que vai cair todo, ainda esta noite. Ou talvez antes. Os olhos avermelhados observam a movimentada avenida e procuram descortinar um inexistente momento para a atravessar. Nas suas mãos, duas garrafas de uísque.

Os meninos rodeiam-no, com os sacos de lixo nas mãos, as suas cabeças rapadas e as suas faces cicatrizadas. O álcool resiste e recusa misturar-se com o sangue, mas tudo escorre pelo alcatrão. Uma estaca retirada do separados central serve para arrastar o cadáver para a berma. O camionista volta a entrar para a cabine, o motor arranca e o trânsito escoa, agora com alguma dificuldade acrescida.

Violência urbana

Em Lisboa e em Paris lembro-me que, ao mínimo sinal de violência urbana, o instinto nos ordenava a todos, cidadãos e transeuntes, o distanciamento e a fuga. Há sociedades - e contextos microcósmicos - em que se passa o oposto: a violência é um apreciado e honrado convite à expressão e intervenção alargada dos ânimos ou dos músculos de todos os indivíduos envolventes.

Aqui em Deli, tenho observado algo diferente. Nas raras ocasiões em que uma disputa assume contornos físicos e violentos, os cidadãos e transeuntes intervêm imediatamente, procurando não ignorar ou exaltar a cena, mas pacificá-la e rebaixá-la ao único nível socialmente reconhecido e, por isso, autorizado aqui na Índia: o argumentativo.

Os peixes

Sábado ao início da noite, numa zona comercial animada e iluminada, deitados sobre o chão poeirento e cuspido, dois meninos, de saco de recolha de lixo nas mãos. Olham para o luxuoso interior de um restaurante e sorriem para o aquário cheio de balofos peixes coloridos.

Imagens de Deli: Parque Natural Corbett (Utaracand)

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Nunca mais chega


A Marinha já veio a público negar, mas é óbvio que a renovação do tão esperado porta-aviões comprado aos russos se encontra mais atrasada do que nunca: INS Vikramaditya: Aircraft Carrier Acquisition from Russia Delayed, Cost Overruns Expected

Porque custa mesmo a acreditar

Confirmo novamente que o 1 de Maio não é feriado oficial na Índia e que passa completamente despercebido na imprensa. Já hoje, 2 de Maio, celebra-se o principal feriado religioso budista (Buddha Purnima).

terça-feira, 1 de maio de 2007

Perspectiva de um ex-leitor

Um interessante texto do meu bom amigo Carlos Gohn, que foi o leitor de estudos brasileiros (Brazilian Chair) aqui na Universidade Jawaharlal Nehru, School of Languages, publicado pelo Núcleo de Estudos Asiáticos da Universidade de Brasília: O leitorado em Nova Delhi e o ensino de Português Língua Estrangeira na perspectiva da diplomacia cultural

Imagens de Deli: Bangalore

Citações de Deli: Um radical

If this book (James Laine's biography of Shivaji) comes out in the market, burn it wherever you find it. This is my order.

Shiv Sena chief Bal Thackeray

Citações de Deli: Um ministro

I feel proud of banning FTV for two months. I feel proud as a citizen of this country and I am conscious about the dignity of women.

I&B Minister Priya Ranjan Dasmunsi